Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 23, 2007

Americanos consomem mais

Alberto Tamer

Com crise ou sem crise, os americanos continuam consumindo de forma voraz. Em novembro, mesmo com o aperto do crédito, o consumo pessoal nos EUA aumentou nada menos que 1,1% em comparação com o mês anterior, quando não havia passado de 0,4%, informou o Departamento do Comércio. Esse é o maior resultado desde os 1,2% de maio de 2004. E os economistas estavam prevendo um crescimento anêmico de 0,5%. Parece que eles estão sempre mais preparados para "prever" o passado do que o futuro, e às vezes até mesmo erram quando "prevêem" o presente...

E, nessa fúria de consumidores, assinale-se que as vendas de dezembro, que já vinham em alta, apenas agora ganham ímpeto, dois dias antes do Natal. Não será surpresa se tivermos um resultado igual ou até melhor neste mês, em que filas intermináveis se formam no caixa das lojas.

Esse aumento do consumo interno, que representa mais de 70% do PIB americano, parece mostrar que o risco de recessão está afastado por enquanto. Sua economia continua sustentada pelo consumo interno e exportações. Os EUA devem terminar o ano com um crescimento pouco abaixo de 2%.

MAS, POR QUÊ?

Tudo indica - os dados aí estão - que a crise imobiliária não contaminou a economia real. Motivo: é muito pequena a parcela da população com créditos duvidosos. E descobriu-se agora que, mesmo entre estes, muitos tinham se comprometido com a compra de mais de um imóvel aproveitando a farta oferta pouco responsável de crédito e juros baixos. Assim, a maioria não se envolveu nem foi arrastada pelo vendaval. E são esses que continuam comprando cada vez mais. Ao mesmo tempo, estimulado pela demanda interna e pelo vigoroso aumento das exportações, foram criados neste ano nos EUA 1,3 milhão de empregos, numa economia onde o desemprego é de apenas de 4,5% da força de trabalho.

Isso é importante para a economia mundial, pois, como temos registrado aqui, os EUA importam anualmente o equivalente a US$ 2 trilhões e apresentam um déficit comercial imenso, mais de US$ 700 bilhões, isto é, mesmo agora, exportando mais, compram também mais do que vendem para o mundo. Todos estão aproveitando.

Só nós não. Nosso comércio com eles é ridículo, as exportações não chegam nem a US$ 20 bilhões nem passam de 15,6% do total. Os EUA, mesmo sendo o maior mercado do mundo, continuam desprezados por governo e empresários brasileiros.

CRISE FINANCEIRA ACALMA

Inundado por uma verdadeira avalanche de dólares, o mercado financeiro internacional está terminando o ano menos tenso. Na sexta-feira, o Fed (banco central americano) anunciou que continuará injetando liquidez "por quanto tempo for necessário." Ou seja, não vai ficar apenas nas ofertas programadas para 14 e 16 de janeiro.

A exemplo, do Banco Central Europeu, fornecerá dinheiro a taxas razoáveis (no leilão de sexta-feira, 4,67% ao ano), pelo tempo e na quantia que o mercado precisar.

Mas não é só isso. O mercado encontrou uma nova fonte trilionária. Nos últimos dias, os bancos mais afetados passaram a ser capitalizados por bilhões de dólares da Ásia (Cingapura e, agora, China) e do Golfo Pérsico. Até um investidor anônimo entrou no circuito... E a Suíça também entrou na dança. Há mais de US$ 1,3 trilhão ociosos nos fundos soberanos em busca de oportunidades que não representem riscos ou sofram restrições dos governos dos países receptores. No caso do sistema financeiro, as restrições são mínimas, pois são investimentos considerados estratégicos. Até agora, mais de US$ 20 bilhões estão entrando nos bancos como participação acionária de asiáticos e árabes.

NA EUROPA, É DIFERENTE

Se a economia americana se sustenta e vai bem, o mesmo não está acontecendo com a européia. O BCE causou até mesmo estupefação ao fazer injeção de US$ 501 bilhões no mercado financeiro. O cenário clareia, mas a economia não reage.

Na sexta-feira, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, previu dias incertos para 2008. "O conselho de governadores do banco sente que há maior risco de um crescimento mais fraco, indo abaixo de 2%", afirmou.

Essa afirmação contrasta bruscamente com o que ele vinha dizendo até há pouco, quando assegurava que, apesar da tensão financeira, "o potencial de crescimento estava intacto". É... O BCE tem sabido errar bem quanto às taxas de juros nos últimos anos.

BCE NÃO CEDE

Diante desse cenário, o caminho seria reduzir os juros e estimular a economia. Mas Trichet foi categórico: apesar das preocupações com o fraco crescimento, "o BCE não permitirá que a alta dos preços do petróleo e da alimentação seja repassado para os preços pagos pela consumidor". No início do mês, quando tudo parecia desabar no mercado financeiro, ele chegou até às raias da imprudência ao anunciar que o banco responderia com alta dos juros se as empresas repassassem os custos para os preços. No fundo, Trichet está ajudando o mercado com injeções enormes de dólares, mas retirando o apoio de juros menores.

O banco central americano deu os dois, juro menor e recurso farto, e, apesar da forte alta da inflação - como também na Europa -, pode voltar a cortar a taxa na sua próxima reunião.

No fundo, os EUA contam com uma arma que os europeus se recusam a usar - a moeda desvalorizada, que está impulsionando as exportações (aumento de mais de 15% no trimestre). Na zona do euro, um euro valorizado tem provocado não só queda das exportações, agora não compensada com aumento da demanda interna, mas também evasão de capitais.

É esse o cenário na penúltima semana do ano. Ele confirma que, apesar dos pessimistas, "o caos foi adiado..."

*Email - at@attglobal.net

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