Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 24, 2007

Celso Ming Vai mudar a economia?

O expurgo a que estão sendo submetidos quadros do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) passa a impressão de que posições estratégicas dentro do governo começam a ser ocupadas por economistas mais identificados com posições contrárias à atual política econômica, que segue a linha ortodoxa.

O que deve ser perguntado é se é ou não iminente uma mudança na orientação da política econômica.

O ponto de vista central da corrente desenvolvimentista de economistas é o de que o controle das contas públicas está sendo exagerado. Segue a teoria já exposta em 1986 pelo então ministro do Planejamento, João Sayad, que escreveu o chamado Livro Branco do Déficit Público, por meio do qual argumentou que o déficit orçamentário não tem a importância que lhe atribuem os economistas ortodoxos.

A proposta recorrente é derrubar os juros - mesmo que se produza um desarranjo (temporário) no sistema de metas de inflação - e conter o dólar, com juros baixos e também com taxação de exportações ou equivalentes e controle do fluxo de capitais.

Seguem-se as conclusões. Aqui vão duas: (1) Lei do Pequeno Príncipe - quem quer borboletas tem de aturar comilança e queimadura de lagartas, taturanas e bichos assim. Quer dizer, é preciso deixar rolar um pouco de inflação para corrigir, se for o caso, lá na frente. (2) Repartição do bolo - aumento do gasto público com crescimento da arrecadação facilita a distribuição de renda.

Esse conjunto de propostas tem esbarrado em pontos fracos. O primeiro é o de que tende a derrubar o investimento. Se o setor público está voltado para o distributivismo, não deixa recursos para a expansão da infra-estrutura. É o que já está acontecendo. Entra ano e passa ano, o Estado não consegue mais do que 1,2% do PIB para investir. Se for para mexer inconseqüentemente no câmbio e nos juros, será difícil atrair o investidor. Mas, sem investimento de ao menos 22% do PIB, não há crescimento sustentado.

O segundo ponto fraco é o de que essas coisas tendem a desarrumar a economia. O tantinho desimportante de inflação se transforma em tantão importante. E tentar segurar preços e câmbio no muque é filme já rodado neste cine paroquial.

Em termos práticos, o discurso desenvolvimentista vai ficando esvaziado na medida em que a atual política produz resultados: inflação de Primeiro Mundo, dívida pública sob controle, contas externas equilibradas, juros em queda, consumo avançando perto dos 10% ao ano e crescimento econômico da ordem de 5% ao ano - e não mais de 2% ou 2,5%, como há alguns anos.

Tem, é claro, o câmbio. Mas já há uma boa probabilidade de que o dólar fique por aí. Pode cair mais um pouco, mas já dá para apostar em que o fundo do poço está por perto.

Além disso, não aconteceram as catástrofes prenunciadas pelos desenvolvimentistas. Não há quebradeira de empresas, não há desindustrialização, o desemprego tem diminuído (menos do que seria preciso, mas tem diminuído)...

Voltando à questão inicial, sempre é possível uma virada ideológica na orientação da política econômica. Mas, enquanto os resultados continuarem aí, vai ser difícil mexer no time e na maneira de jogar.

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