Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 27, 2007

MILLÔR

JANOTAS

Subitamente, num nanomomento histórico, o politicamente correto decretou que é proibido fazer qualquer piada sobre qualquer grupo "minoria". Todos pertencentes a esses minoritários – embora mulheres, negros e gays sejam, visível e estatisticamente, maioria – são perfeitos, impolutos, acima de qualquer suspeita e, melhor (ou pior), acima de qualquer piada.

Agora, o contrário: esses grupos, e todos nós, podemos falar, impunemente, da loura burra.

E eu, que não tenho coragem de infringir nenhum preceito politicamente correto, aproveito e também gozo essa loura modelo que, como todos vocês sabem, só tem dois neurônios.

E acrescento: tem dois neurônios, mas só usa um.
O outro é step.

Deixa de procurar, amigo. Par perfeito só mesmo o do sapato. E olhe lá.

Baldio. Nunca ouvi esse adjetivo empregado senão pra adjetivar terreno. Terreno baldio.

Falar nisso, que fim levou o terreno baldio? Morreu. Desapareceu. Está enterrado embaixo dos arranha-céus.

Por inferência, careca também é baldio. E, pela mesma inferência, fazendas no olho do furacão do MST são consideradas baldias pela recuperação social. E toda a Amazônia, do ponto de vista dos madeireiros e das multinacionais farmacológicas.

Sarney, olhando as fotos da Mônica na Playboy, murmurou, lastimoso: "Pô, por que eu não levei o Photoshop pra cama?".

Há muitos anos, "no tempo em que João, filho de Pedro, memorava, depois que livre o teve do vizinho poder, que o molestava", compareci, ingenuamente, levado por meu amigo Técio Lins e Silva, a um congresso sobre drogas, no Palácio da Cúria, no Sumaré, RJ, presentes inclusive Dom Eugênio e o Padre D'Ávila, reconhecido como sacerdote aberto a todos os ventos. Quando vi, estava num simpósio (palavra culturalmente assustadora) com 56 pessoas, polícia internacional, ex-drogados, especialistas em drogas, juristas, o escambau. De um sábado de manhã ao domingo à noite discutiu-se tudo referente a drogas e seu indiscutível sucesso – social, pessoal, criminal. Boquiaberto, mantive-me de boca fechada. Mesmo porque eu não tinha nada a ver com o enfoque geral. No fim do simpósio, o plenário foi dividido em quatro grupos, 14 pessoas cada grupo.

No meu grupo, aí sim, eu falei: "Vocês vão me perdoar, mas me deixem falar primeiro, porque possivelmente sou o mais radical de vocês". E advoguei a liberação de todas as drogas. Pra minha surpresa não houve muita oposição. Aparentemente não havia, de imediato, outra solução. Foi escrita uma moção, retificada sabiamente por Técio Lins e Silva.

De volta ao plenário, Técio leu nossa moção. Dom Eugênio, agora presente, perguntou um tanto flabergasted: "Os senhores aprovaram isso?".

Pela primeira vez me levantei e disse: "Por unanimidade, Dom Eugênio".

Mais duas vezes Dom Eugênio teve a mesma reação, obteve a mesma resposta.

Anos depois, quando ventos mais liberais trouxeram de novo à baila a discussão, pedi a Técio que solicitasse à Cúria nossa modesta proposta. Ele não conseguiu. Acho que o texto nem estava no arquivo.

Assim caminha a humanidade.

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