Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, setembro 25, 2007

Celso Ming - Mergulho global




O Estado de S. Paulo
25/9/2007

O real não está sozinho. As outras moedas fortes estão se valorizando em relação ao dólar americano.

Alemães, franceses e italianos estão aflitos diante da escalada do euro, que ontem chegou a ser negociado a US$ 1,409, nível mais alto nos seus 9 anos e meio de história. Do início de junho até ontem, as cotações do dólar caíram 5,1% diante do euro; 6,0% diante do iene japonês; e 2,0% diante da libra esterlina.

Os canadenses não acreditam no que vêem: paridade entre dólares. No início de janeiro, eram necessários 118 dólares canadenses para comprar US$ 100. Agora bastam 100,01.

Os preços da maioria dos ativos em dólares (ouro, ações, petróleo, commodities, títulos) vão embicando para cima. Ainda há quem diga que isso só ocorre porque a demanda global foi turbinada pelo consumo asiático. É um fator relevante, mas é bom considerar que, nessa desvalorização, são precisos cada vez mais dólares para pagar a mesma conta.

A escorregada vem lá de trás e está ligada aos dois megarrombos americanos: déficit anual de US$ 800 bilhões nas contas externas e déficit de US$ 158 bilhões nas contas públicas. Mas se intensificou na semana passada, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortou os juros em meio ponto porcentual.

Um dólar mais barato quer dizer que alemães, franceses e espanhóis estão pagando algo como 7% a menos do que no início do ano por vagas em hotéis americanos. Significa, também, que os produtos dos Estados Unidos chegam mais baratos aos portos europeus. Em contrapartida, produtos alemães, franceses, japoneses, canadenses e escandinavos perdem competitividade.

O caso da Airbus, que paga contas em euros, mas fatura em dólares, é dramático. Seu plano estratégico leva em conta um câmbio de 1,35 euro por dólar e já previa um corte anual de custos de 2,8 bilhões de euros a partir de 2010, com demissão de 10 mil funcionários. Agora, se quiser sobreviver diante do maior concorrente, a americana Boeing, terá de passar o facão mais embaixo.

As mesmas queixas que se ouvem na Fiesp agora pipocam na Europa. "Se nas próximas quatro ou cinco semanas o euro se mantiver neste nível ou subir ainda mais, o setor exportador alemão vai sentir", queixou-se sexta-feira Anton Bõrner, presidente da Federação de Comércio Exterior e Atacadista da Alemanha.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, já mandou vários torpedos para o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet: que derrube os juros para evitar o desastre da indústria francesa. Mas tem levado o troco das autoridades: que não meta a colher nesse caldeirão.

Para os países emergentes, que nos dois últimos anos empilharam reservas em dólares, cada recuo do dólar implica desvalorização patrimonial. Algumas previsões apontam que, até 2010, o dólar sangrará cerca de 30% do seu valor. Se isso se confirmar, o Brasil, hoje com US$ 162 bilhões em reservas, perderá US$ 48,6 bilhões, mais do que tem juntado por ano na balança comercial.

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