Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 28, 2007

Villas-Bôas Corrêa O riso nervoso da culpa e da paúra

Mestre em mergulhar em águas turvas para subir à tona na hora certa, o novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, assumiu com os sete fôlegos de dono da área, com carta branca para colocar em ordem a mixórdia do tráfego aéreo e deu o recado em duro improviso no qual enquadrou o presidente Lula na moldura dos compromissos assumidos ao insistir no convite. Aproveitou o embalo para comunicar aos comandos das três armas e aos dirigentes da barafunda de mais de um dezena de órgãos que batem cabeça na inchada burocracia do setor aéreo enquanto os aviões despencam que "comando, a partir de agora, vai haver".

O brado soou como aviso que reboa na casa vazia, e seu eco chegou amortecido ao gabinete da todo-poderosa ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil e virtual presidente em exercício. Um chega-pra-lá, pois há espaço para a dupla no Palácio do Planalto.

Mas, antes de o novo astro anunciar as medidas iniciais para enxugar a bagunça de albergue do setor aéreo, não pode passar em branco o clima da cerimônia de despedida do desconsolado ministro Waldir Pires, que o presidente Lula comandou na inadequada euforia de festa, quando todas as evidências recomendavam o decoro do respeito à segunda tragédia no espaço de dois meses, com mais de 400 vítimas, além do vexaminoso descaso com que vem sendo maltratado o usuário do transporte aéreo, com a interminável desordem dos aeroportos, sem hora certa para acabar.

O momento recomendava a discrição de uma simples posse breve e contida, sem oratória nem a fila dos cumprimentos. Bastaria o aperto de mão e as pancadas nas costa. Mas o presidente, sumido desde a vaia no Maracanã, não resistiu à atração do microfone. Cócegas na goela espicaçaram a amarfanhada vaidade do improvisador fluente. E Lula perdeu o controle da língua. A ocasião dispensava piadas e gracinhas. Não há nada para rir. Mas o governo para o presidente é uma festa, uma sucessão de viagens, recepções, salamaleques e discursos. A confissão de que tem medo de avião, francamente, parece deboche. Pois não há termo de comparação entre as viagens presidenciais, com avião especial comprado para o seu uso e gozo (como recomenda a ministra sexóloga) e tripulação às ordens. Sem entrar em fila para as decolagens e aterrissagens, longe do inferno imposto aos seus eleitores e a escumalha da oposição. Sei que não era esta a intenção, mas parece provocação.

E cá para nós, de que tanto ri e gargalha o primeiro escalão oficial? Na troca de ministro foi uma gargalhada de doer a barriga, jorrar lágrima dos olhos, exigindo lenço para secar a enxurrada. O patusco Milton Zuanazzi, o felizardo que abiscoitou o bilhete premiado da presidência da Agência Nacional de Aviação Civil (a descartável Anac), teve dois frouxos de riso nas ocasiões mais impróprias. Na última, ao depor na CPI do Apagão Aéreo, depois de chutar a responsabilidade da lambança para a Infraero, não segurou o riso e levou um puxão de orelha do deputado Vic Pires.

Tanto bom humor, o clima festivo e leviano em que o governo desfruta o poder leva a duas hipóteses que não se repelem: ou o governo finge para disfarçar a angústia que corrói a alma ou ainda não parou para avaliar o estrago que se prolongará, quem sabe, por três anos e meio do segundo mandato do presidente.

A primeira vaia nunca se esquece. Para fugir do cativeiro, nenhum teste melhor do que comparecer domingo, ao Maracanã, local da primeira vaia, para encerrar o Pan, em que conquistamos uma penca de medalhas com o desempenho fabuloso dos nossos atletas.




28/ 07/ 2007

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