Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 31, 2007

Luiz Garcia - "Oi"



O Globo
31/7/2007

Vocês, não sei, mas eu esperava o pior. O que, infelizmente, costuma ser atitude de boa prudência.

E foi verdade que vivemos meses de medo, suspeitas e denúncias. As obras estavam atrasadas, as brigas foram uma atrás da outra. Tinha a discussão sobre a Marina da Glória, a briga sobre a invasão do Autódromo, as denúncias sobre atrasos e safadezas diversas nas obras.

Quem sabe, muita coisa era verdade. Afinal, é uma tradição nacional: não há obra pública, neste país inacabado, sem alguma forma de maracutaia. Graças a Deus, não é só aqui. E sempre há consolo no fato de que dói menos a mão-boba na construção de um estádio do que na administração de uma guerra maldita, como a do Iraque.

Também temos precedentes que servem de algum consolo. Nos anos 50 do século passado, dizia-se (como aprendi lendo jornais velhos na Biblioteca Nacional) que muita gente na prefeitura do Distrito Federal enricara com as obras do estádio do Maracanã. Mas o monstrengo, hoje bem mais bonitinho, ficou pronto a tempo e, já na época, foi muito elogiado, principalmente pelos turistas uruguaios.

Desta vez, também não tivemos muitas e graves razões para reclamar, desde o primeiro momento. A festa começou linda, e quem gosta de ouvir de uma bela vaia o brado retumbante gostou mais ainda. Os visitantes elogiaram tudo, da infra-estrutura à organização. Fora de quadras e pistas, não aconteceu o esperado nó geral no trânsito da cidade.

Houve problemas com ingressos e com alimentação nos estádios que deveriam ter sido evitados. E algumas outras coisas, de gravidade pequena ou média.

No fim das contas, naquilo que o pessoal gosta de chamar de "cômputo geral", nada aconteceu que assustasse para valer os visitantes e envergonhasse profundamente a turma de casa. Nas quadras e nos campos, nas pistas e na água, esta se saiu à altura do que se esperava. Falando sério: bem melhor até.

E acabamos torcendo entusiasticamente até naquelas lutas estranhíssimas em que ninguém dá murro e/ou nocaute em ninguém. E no tênis de mesa - tão diferente do pingue-pongue, não? Pouco importa. Os atletas não têm culpa da ignorância de um ou outro espectador.

Claro, não foi fácil viver ao mesmo tempo a alegria no Pan e a tristeza e a indignação provocadas pela tragédia de Congonhas. Mas, que se vai fazer? Com pedido de perdão pela banalidade: é da vida. Os episódios não se misturam, não são postos nos pratos de uma balança.

E o povo heróico exerceu livremente, até o fim, seu inalienável direito a vaias retumbantes - do mesmo jeito que aproveitou as oportunidades de mergulhar na alegria da festa, da forma que achou melhor.

"Oi" para todos.

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