Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 24, 2007

Lady Di para sempre e para seus devotos

Lady Di para sempre e para seus devotos

Após 250 entrevistas, de Blair a Travolta, surge The Diana Chronicles, obra da jornalista ‘especialista em realeza’ Tina Brown

Caio Blinder

Amantes e voyeurs de Diana Frances Spencer (também conhecida como princesa de Gales ou Lady Di) ficarão decepcionados ao folhearem a biografia de Tina Brown em busca de fotos, estilo revista Caras ou tablóide inglês. Elas lá estão em The Diana Chronicles (Doubleday, 542 págs., US$ 27,50), mas apenas em contida colagem em branco-e-preto dos momentos icônicos da mãe das celebridades modernas.

Esta opção ilustra a nobre missão de Tina, rainha do lixo de alta classe na imprensa. Tudo bem ganhar US$ 2 milhões de adiantamento pelo livro e ser best-seller, mas ela tem algo importante a dizer. No festival dez anos sem Diana, ela quer colocar a vida da princesa em um contexto histórico e sociológico, mas ainda alcançando leitores de material sórdido de Andrew Morton ou Kitty Kelley.

Antes um pouco de contexto sobre Tina: a jornalista britânica, hoje cidadã americana, deve sua carreira a Diana. Antes da New Yorker e Vanity Fair (e fracassos como Talk), ela se tornou em 1979, aos 25 anos, editora da Tatler, moribunda revista londrina de fofoca da alta sociedade. Ela viu na ainda mais jovem Diana um “eco geracional”, capaz de balançar o mofado coreto real e revitalizar as vendas da revista. O casamento de Charles e Diana, em julho de 1981, foi para Tatler o que O.J. Simpson foi para a rede de TV CNN. Tina foi recrutada pela TV NBC como “especialista em realeza” na cobertura do casamento, que, aliás, teve uma audiência global de 750 milhões de súditos. Na expressão do historiador Simon Schama, foi o “casamento do passado e do futuro”.

Tina realmente é autoridade para fazer a crônica de Diana, criatura que foi vítima e manipulou a mídia (ou será vice-versa?). Ela entrevistou mais de 250 pessoas (de Tony Blair a John Travolta), leu de tudo e faz questão de mencionar logo no começo do seu livro o seu último encontro com Diana, num almoço no Four Seasons, em Manhattan, semanas antes do acidente fatal em Paris, perseguida pelos paparazzi.

Tina relata que Diana aprendeu a usar a imprensa na defesa e no ataque na guerra das intrigas palacianas, para descobrir que o dano também era auto-inflingido. Ela destruiu os últimos vestígios de privacidade das celebridades. Mistura de madre Teresa e Lady Macbeth, Diana não conhecia Shakespeare, não era moça instruída. Em um contexto maquiavélico, era tática, não estrategista.

Lady Di era instintiva. Nascida em berço de ouro, na expressão de Tina Brown, ela sabia que a “aristocracia do nascimento” se tornara irrelevante, destronada pela “aristocracia da exposição”. Era natural que Diana fosse coroada neste novo contexto, já que estava acostumada e obcecada por fotos e câmaras (e não livros) desde criança. Sangue azul, obviamente, era obrigatório, com o palácio necessitado de uma (a única) virgem aristocrata para Charles (mais contexto da virgindade, adiante).

Mas, ao buscar seu lugar na “aristocracia da exposição”, Diana destruiu o ecossistema que mantinha a monarquia britânica viva em um mundo irreverente e devassado. A saga de Diana, que se transformou na “princesa do povo”, desmascarou de vez a hipocrisia real e desmontou a cultura da deferência. Azar da rainha. Os instintos de Diana estavam corretos (embora fatais). Através da mídia, ela atingiu o status de megacelebridade, de santa, de mártir. Muito melhor do que um príncipe pouco encantado.

Camilla Parker Bowles era parte do trio conjugal, mas a rigor existia um quarteto, do qual a mídia fazia parte. A fotogênica Diana foi um achado maravilhoso em contraste à chatice dos figurantes do palácio. A imprensa foi seduzida e Diana se tornou uma principesca manipuladora, mesmo nas causas mais nobres, como remoção de minas em zonas de guerra, nas quais ela se engajou por obrigação, convicção ou para impressionar um dos seus amantes, o médico Hasnat Khan.

Já que estamos no assunto, foram sete amantes conhecidos. Tina atribui o despertar sexual da princesa ao major James Hewitt, mas com Charles provavelmente houve sexo antes do casamento, em um vagão real. Tina não tem pruridos para falar da vida sexual do casal. Charles tinha dificuldade para encontrar as zonas erógenas da princesa de Gales e, na verdade, não se empenhava muito. Segundo Tina, até que era compreensível, pois Diana vivia vomitando.

Como se vê, voyeurs vão encontrar farto material. Há momentos picantes e saborosos no lixo de alta classe. Em um encontro pouco antes do divórcio, Diana foi advertida pelo sogro, o príncipe Philip: “Se você não se comportar, nós vamos tirar o seu título”, se referindo ao Sua Alteza. A resposta da princesa: “Meu título é muito mais velho do que o de vocês”, em alusão à linhagem da família Spencer. Querem mais? O festival multimídia dez anos sem Diana já está em curso. Serão 14 novos livros na temporada. A jóia da coroa são estas crônicas de Tina Brown.

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