Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 27, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS JB

A frente ampla dos inquietos

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) engajou-se oficialmente, na sessão da quinta-feira, no bloco nacional dos inquietos. Forjada pelas descobertas da Operação Navalha, a aliança tem dimensões amazônicas. Abrange parlamentares de todos os partidos e procedências, notáveis da OAB ou advogados de porta de cadeia, figurões do Judiciário e medalhões do Executivo.

A elasticidade ideológica do balaio produziu um fenômeno surpreendente até para um país que parece ter abdicado do direito de surpreender-se: a mesma discurseira contra "os abusos da Polícia Federal" ou "o risco do Estado policial" é declamada, com nuances que só acentuam a harmonia do conjunto, por vozes historicamente dissonantes.

O que diz na Câmara um direitista feroz como Paulo Maluf, por exemplo, é repetido no Senado por um comunista de carteirinha como Inácio Arruda. O bravo cearense chegou pelo atalho do aparte à estrada principal por onde avançam as tropas rebeladas. Para juntar-se ao berreiro, interrompeu o discurso do amazonense Arthur Virgílio, líder do PSDB.

"O que não posso admitir é a invasão da vida pessoal dos cidadãos", comunicou Arruda ao Brasil. "Isso é baixaria". Ele achara "baixaria", por exemplo, a devassa de intimidades financeiras da dupla (hoje oficialmente desfeita) formada por José Reinaldo e Alexandra Tavares.

Na esteira das investigações da Polícia Federal, descobriu-se que, quando ainda compunham o primeiro-casal do Maranhão, ambos haviam comprado em Brasília um dúplex posto agora à venda por R$ 3 milhões. Mesmo para uma "mansão suspensa, é um dinheiro e tanto.

O ex-governador, emudecido por dois dias na cadeia, dispensou-se de esclarecer o mistério. Falou por ele a antiga primeira-dama, que hoje, aos 34 anos, contribui para o progresso do Maranhão como "secretária extraordinária de articulação com órgãos nacionais e internacionais".

Com a veemência dos sem-culpa, Alexandra contou à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, que foi ela quem propôs o negócio: "Falei para ele: 'Zé Reinaldo, vamos comprar agora que a gente não tem gasto'. Eu era secretária de Estado, conselheira, tinha um bom salário. Falam como se fôssemos dois pés-rapados", irritou-se. E havia, além da presença de receitas, a ausência de despesas.

"Será que ninguém vê que, no governo, você não paga água, luz, telefone, empregado, comida, nada?", esbravejou. "É de indignar, é uma loucura". A ira de Alexandra tem o endosso de Inácio Arruda, fundador da União das Vítimas de Baixarias. E de Renan Calheiros, que assumiu a presidência da UVB na sexta-feira.

Chegou ao cargo a bordo de uma reportagem da Veja sobre escandalosas trocas de favores envolvendo a empreiteira Mendes Júnior, o próprio Renan e alguns agregados. Como toda a UVB, seu presidente acha que o povo não tem nada a ver com as contas dos outros.

Certo. Desde que os outros não paguem as próprias contas com o dinheiro do povo.





Cabôco Perguntadô

Estimulada pelo escândalo da hora, a memória feroz do Cabôco devolveu-o ao Iraque dos anos 90, adornado por canteiros de obras da empreiteira Mendes Júnior. Por ter separado a parte do chefe na propina recebida da construtora brasileira, o prefeito de Bagdá foi condenado à morte por enforcamento pelo ditador Saddam Hussein. Embora ache a hipótese altamente improvável, o Cabôco tem uma pergunta a fazer aos empresários do setor: se essa moda um dia pegar no Brasil, haverá corda suficiente?

Passarinho incendiário

Um Boeing da Gol que voava na rota São Paulo-Montevidéu teve de voltar ao Aeroporto de Cumbica, na quarta-feira, 25 minutos depois da decolagem. Uma das turbinas estava em chamas, contaram alguns passageiros. O avião mal pousara quando a empresa aérea divulgou o motivo do regresso forçado: a "pane na turbina" fora causada pelo choque com uma ave sem controlador de vôo.

O mundo agora sabe que o aquecimento global já produz passarinhos incendiários.

 
Castigo para os inocentes

Os líderes da corporação parecem empenhados em impedir que a Polícia Federal consiga a simpatia solidária dos homens de bem. Enquanto aplaudia o andamento da temporada de caça aos corruptos, o Brasil decente foi esbofeteado por outra paralisação dos agentes destacados para os aeroportos. Bravos com o governo, que vem adiando o prometido aumento de salário, os federais descontam a raiva nos passageiros, vítimas das operações-tartaruga. É a mais covarde forma de greve.


Perdão para os delinqüentes

Quando o Congresso foi depredado por tropas sem-terra de Bruno Maranhão (com-terra, com-mesada-da-mãe mas revolucionário), uma invasora foi filmada destruindo um computador a pauladas. Em liberdade, a combatente pode ter participado da ocupação, por dois dias, da usina de Tucuruí.

Ali, um dos atacantes tentou acionar o mecanismo que abre as comportas da represa. A ação criminosa foi documentada por câmeras de televisão. O delinqüente não está na cadeia. É o Brasil.



Yolhesman Crisbelles

O troféu da semana vai para o neopetista Milton Zuanazzi, presidente da Anac, pela frase que resumiu, na CPI do Apagão Aéreo, o que considera o melhor momento do seu currículo:

Tive o orgulho de elaborar, na gestão do ministro Walfrido Mares Guia, o Plano Nacional do Turismo, que tirou o Brasil do anonimato.

Primeiro, essa versão gaúcha de Pedro Álvares Cabral promoveu a redescoberta do país. Em seguida, resolveu fechar os aeroportos.

27 / 05 / 2007

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