Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 28, 2007

Os salários dos atores nas séries americanas

A ordem é suar a camisa

Quanto mais criativa fica a TV americana, mais difícil
é para seus astros cravar um cachê milionário


Isabela Boscov

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Até o início desta década, ser um ator de sucesso na televisão americana podia render dinheiro em quantidade suficiente para fazer história. O comediante Ray Romano, da série Everybody Loves Raymond, cravou um recorde: 1,8 milhão de dólares por episódio. A uma média de 24 episódios por temporada, isso significa que ele chegou a ganhar mais de 43 milhões de dólares ao ano – coisa de que só uma meia dúzia de astros de cinema poderia se gabar. Kelsey Grammer, de Frasier, chegou perto dele: 1,6 milhão de dólares por capítulo. Esses salários astronômicos, porém, são coisa do passado. A explosão criativa que a TV americana vive de uns seis anos para cá gerou efeitos colaterais inesperados: aumentou a concorrência por papéis (muita gente vinda do cinema entrou na parada), colocou mais força (e dinheiro) nas mãos de produtores e roteiristas e, como resultado, achatou o cachê dos atores principais. Até a década passada, nenhum executivo de emissora se sentiria seguro no emprego sem recrutar um nome vistoso para encabeçar o elenco de uma nova atração. Hoje, embora atores conhecidos ainda sejam um ingrediente desejável da receita, está mais ou menos combinado que o que realmente importa é o roteiro – como Dick Wolf, produtor da franquia Law & Order e o mais duro negociador do pedaço, vinha ensinando desde os anos 90.

Neste momento, o salário mais alto pago a um ator de TV é o de James Gandolfini, o capo de Família Soprano. A cada capítulo, ele engorda sua conta bancária em 800.000 dólares. Para chegar a essa marca, entretanto, o ator teve de jogar pesado e quase se retirou da atração. Ganhos assim mais, digamos, sensatos são hoje regra, não exceção. Veja-se Kiefer Sutherland, o agente Jack Bauer de 24 Horas. Sutherland já tinha uma carreira no cinema e, além de ser produtor executivo de 24 Horas, é o pivô de toda a ação da série, que atinge ótimas médias de ibope. Mas ele ganha 400.000 dólares por episódio. Com essas credenciais, é provável que, nos anos 90, o mesmo trabalho lhe rendesse três vezes mais. A questão é que, no cenário atual, Sutherland não está competindo com outros nomes de igual ou maior calibre: está competindo com outros enredos. Séries como C.S.I., Lost, Heroes, Desperate Housewives e Grey's Anatomy se firmaram como campeãs de audiência sem ostentar nenhum nome que fosse, em si, um chamariz. Ou seja: desde que a trama continue funcionando, qualquer ator ou atriz pode, a rigor, ser considerado dispensável e/ou substituível – outra máxima que Dick Wolf já pregava havia muito tempo.

Num artigo publicado há poucas semanas, a revista Entertainment Weekly revelou que ainda há executivos que não perderam os velhos hábitos. A publicação apurou que Zach Braff, de Scrubs, passará a ganhar 350.000 dólares por episódio, embora sua série ocupe um longínquo 94º lugar no ranking de audiência. Motivo: a televisão americana está fervilhando de tal maneira que os produtores temem vir a ficar sem talentos suficientes para preencher todas as atrações que querem tirar do papel. Outro motivo: hoje, não só o ibope entra na equação. Vendas de reprises a outras emissoras (que deu a Seinfeld estimados 225 milhões de dólares), vendas para exibição no exterior (para se ter uma idéia, cada episódio de Desperate Housewives negociado no mercado europeu vale 2 milhões de dólares) e rendimentos em DVD (fatia considerável do faturamento de redes como a HBO) são variáveis cada vez mais importantes na hora de acertar um salário. Por sua série ter ótimas notas em todos esses quesitos é que o elenco de Grey's Anatomy, por exemplo, está prestes a conseguir aumentos vultosos, da ordem de até 125.000 dólares, antes mesmo que finde seu contrato – pelo qual a maioria dos atores ganha de 30.000 a 50.000 dólares por episódio. No geral, porém, a briga de um ator por seu cachê anda mais encarniçada do que nunca. Agora só resta esperar que também o cinema americano aprenda essa lição.

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