Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 28, 2007

O Carrefour compra o Atacadão

Oferta do dia...

...preços baixos. "Efeito Wal-Mart"
no Brasil ajuda a reduzir a inflação


Cíntia Borsato

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Quadro: Grandes redes, preços baixos

Vender muito para vender por menos. Com esse slogan, o americano Michael Cullen inaugurou em 1930 o King Kullen, o precursor dos supermercados atuais. Até então, o comércio era dominado por lojas especializadas em poucos produtos, em que cada freguês era atendido individualmente por um balconista. Cullen vislumbrou que poderia lucrar muito mais se vendesse grandes quantidades de mercadorias, ainda que com uma margem de lucro menor. Esse mesmo princípio está na raiz do sucesso do Wal-Mart. O grupo americano levou ao extremo a obsessão pelos ganhos de produtividade – foi um dos primeiros varejistas a informatizar o controle de estoques e também a usar códigos de barra. Não menos vital, a rede aperta os seus fornecedores ao limite, para assim obter preços melhores. O resultado foram produtos cada vez mais baratos, o que obrigou a concorrência a seguir o mesmo modelo.

Aonde quer que o Wal-Mart chegue, a concorrência sente o impacto. No Brasil não tem sido diferente. A rede iniciou suas atividades no país em 1994 e ganhou musculatura aos poucos, abrindo lojas próprias ou adquirindo rivais. No fim de 2006, a rede americana já aparecia em segundo lugar no ranking dos maiores grupos varejistas do país, atrás apenas do Pão de Açúcar. Na semana passada, o Carrefour, que caíra para terceiro, decidiu contra-atacar. Os franceses acertaram a compra da rede Atacadão, por 2,2 bilhões de reais, e deverão recuperar a liderança, que havia sido perdida em 2000 para o Pão de Açúcar. "Vemos um enorme potencial de crescimento no consumo da população de baixa renda", afirma Stephane Kaloudoff, diretor financeiro do Carrefour. Segundo analistas, Pão de Açúcar e Wal-Mart deverão revidar em breve, o que significa que novas redes menores poderão ser adquiridas.

Nessa concorrência, ganha o consumidor. Ao operarem com volumes consideráveis e margens estreitas, as grandes redes exigem preços mais baixos dos fornecedores e mantêm uma queda-de-braço constante com a indústria. "Houve recentemente um novo equilíbrio de forças. Antes a indústria impunha o preço. Mas os grandes varejistas concentram hoje tanto volume que os fabricantes dependem deles", diz Fernando Fernandes, analista da consultoria Booz Allen Hamilton. Os efeitos do Wal-Mart no controle da inflação chegaram a ser celebrados por Alan Greenspan, o ex-presidente do Federal Reserve (o banco central americano). Nos Estados Unidos, a rede vende alimentos com preços até 25% mais baixos que os da concorrência. No Brasil, esse efeito se repete. Um levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostra que os produtos sobem bem menos nos hipermercados (veja o quadro). Afirma o economista Márcio Nakane, da Fipe: "Com certeza, as grandes redes de supermercados ajudaram a puxar a inflação para baixo no Brasil".

Montagem com foto de Alex Silva/AE

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