Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 28, 2007

O debate político e o PIB "novo"



Artigo - Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
28/3/2007

Dados que IBGE divulga hoje podem mudar estimativas de gasto público e do potencial de crescimento da economia

GOVERNO E algumas consultorias e bancos que se arriscaram a estimar o crescimento de 2006 dão conta de que o PIB teria avançado 3,5%, contra os 2,9% apurados segundo o método antigo de calcular o ritmo da atividade econômica, que foi revisado pelo IBGE.
O pibinho revisado e vitaminado não tem apenas implicações contábeis, nem os décimos de porcentagem adicionais que podem aparecer hoje no PIB do ano passado serão meras firulas estatísticas.
Em jogo estão indicadores relevantes, como o tamanho da dívida pública em relação ao PIB e a quantidade de dinheiro dos impostos que o governo precisa colocar de lado a fim de fazer com que a dívida caia ou, pelo menos, não cresça -isto é, o tão maldito superávit primário.
Como o PIB ficou maior e o tamanho da dívida pública não mudou, a proporção dívida/PIB, claro, caiu, pelo menos até 2005.
Deve cair ainda mais se confirmado um pibinho maior em 2006.
E daí? Daí que o superávit primário, a contenção de gastos necessária para reduzir a dívida nos próximos anos, pode, em tese, ser menor do que o previsto no plano do governo.
Não se trata apenas da adequação aritmética do superávit ao novo tamanho do PIB -isto é, o superávit anteriormente previsto, de 4,25% do PIB "velho", deve equivaler a uns 3,8% do PIB "novo". Mas, como agora se parte de um patamar menor de dívida como proporção do PIB, ficou mais fácil atingir a meta de redução do endividamento público para os próximos anos de Lula.
A alternativa é óbvia. Decerto não faz sentido manter o superávit do PIB "velho", o que implicaria novo e brutal corte de gastos (mais de R$ 9 bilhões). A fim de manter a dívida estabilizada, com um crescimento de 3,5% em 2007, basta um superávit de 2% no PIB "novo", na estimativa dos economistas do ABN.
O problema de baixar o superávit dos 3,8% do PIB "novo" é perder a chance de abater a dívida pública mais rapidamente. Se a dívida pública é menor, menor é a conta de juros. Quanto mais rapidamente cair a conta de juros, mais cedo virá a oportunidade de aumentar o investimento do governo em obras (ou de reduzir os impostos, a depender do gosto político do freguês).
Os dados sobre o ritmo trimestral do investimento (em máquinas e instalações) e do consumo são outro indicador politicamente relevante que o IBGE deve apresentar hoje.
Com os novos dados de investimento, fica menos imprecisa a medida da produtividade da economia. O nível de produtividade é importante também para estimar com imprecisão menos indecente o potencial de o PIB crescer sem que ocorra descontrole de preços, inflação. Os primeiros dados novos do IBGE sobre o assunto mostraram como são precários os cálculos sobre o limite do crescimento. E como há cascata ideológica sobre o assunto.

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