Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 28, 2007

Míriam Leitão - Nova fotografia



PANORAMA ECONÔMICO
O Globo
28/3/2007

Hoje, de novo, é dia de rever o passado. O número do PIB de 2006 vai crescer pela nova metodologia. Há quem esteja mais otimista, como o professor Luiz Roberto Cunha, que acredita que ficará em 3,5% "com viés de alta", e apostas menores, como a do Credit Suisse, que acha que pode ficar em 3,3%. O mais importante é que não é aumento do crescimento, mas apenas a fotografia mais nítida.

Na verdade, está muito mais difícil fazer projeção atualmente, assim os números previstos pelos economistas são mais imprecisos. Nilson Teixeira, do Credit Suisse, explica que as mudanças reduziram as séries estatísticas:

- Ainda não tem modelo, portanto é mais difícil extrapolar.

Como nas revisões dos anos anteriores divulgadas na semana passada houve, em média, um aumento de meio ponto percentual, as maiores apostas estão em torno de 3,4%, já que o número divulgado anteriormente tinha sido de 2,9% para o crescimento do PIB de 2006.

Luiz Roberto Cunha acredita que pode ser até maior que 3,5%, porque o crescimento do item "intermediários financeiros" pode ter puxado mais.

Mas o fato de o PIB de 2006 ter sido maior que os 2,9% divulgados significa que o ano de 2007 será de crescimento mais baixo, já que estará sendo comparado com uma base maior?

- É um bom ponto - comenta o professor Luiz Roberto. Mas ele lembra que depende de vários outros fatores.

Por exemplo: a agricultura este ano será melhor que no ano passado e há sinais de recuperação da indústria.

Na quarta-feira da semana que vem, será divulgado o número da indústria de fevereiro. E tanto Nilson Teixeira quanto Luiz Roberto Cunha estão otimistas.

- Deve ficar em 0,8% - acredita Teixeira.

O dado é bom se comparado com a produção industrial de janeiro que, em relação a dezembro, caiu 0,3%. Na comparação com janeiro de 2006, o aumento foi de 4,5%. Quanto a esse número, o economista Sérgio Vale, da MB Associados, não está muito otimista. Acha que ele foi puxado por um fator pontual; um aumento muito forte, de 18%, nas máquinas e equipamentos. Além disso, como a indústria automobilística caiu 2,2% em fevereiro, acredita que a produção industrial não deve dar um bom número.

Dois dados preocupantes foram divulgados ontem. Primeiro, a geração de emprego formal registrada no cadastro do Ministério do Trabalho mostrou queda de 16% em fevereiro contra fevereiro de 2006. Não é tão ruim quanto parece, pois o que caiu foi o número de vagas criadas. Mas, em outros indicadores de desemprego, o começo do ano deve ter números negativos. Amanhã será divulgada a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, de fevereiro. Vai ser de aumento do desemprego, segundo Nilson Teixeira, para 9,6%.

Todo início de ano, o desemprego sobe, e não necessariamente porque houve demissão, mas porque mais pessoas procuram emprego. O fenômeno é conhecido.

Outro dado ruim divulgado ontem foi a queda do Índice de Confiança do Consumidor, medido pela FGV, que mostrou que há menos propensão de compra de bens de consumo duráveis.

Luiz Roberto acha que isso deve ser acompanhado, mas não está particularmente preocupado:

- Está havendo um alongamento do crédito, grandes lojas estão oferecendo prestações mais longas, o que ajuda o consumidor a dar uma respirada.

Nilson Teixeira afirma que não dá muito valor a dados pontuais; o mais importante é ver a tendência do consumo:

- A expansão do crédito está maior para o consumidor, e as empresas estão captando mais barato.

Sérgio Vale acha que este ano vai se repetir a mesma história:

- O comércio vai de vento em popa, enquanto a indústria caminha de lado.

Mas, se a indústria cresce pouco, se o emprego não cresce, de novo, a economia vai depender do aumento do consumo puxado pelo crédito?

- É claro que o consumo não tem força para se manter sozinho - ressalta Luiz Roberto Cunha.

Sérgio Vale lembra que a renda está crescendo menos que o crédito. Isso pode levar as pessoas a não conseguirem pagar os empréstimos. Segundo a Serasa, aumentou 7,3% a inadimplência da pessoa física no primeiro bimestre de 2007.

O erro não está no consumidor, mas na economia. No Brasil, os juros altos sempre tornaram o crédito pequeno demais:

- Há uma demanda reprimida por crédito - diz o economista da MB.

A revisão do PIB mostrou que a taxa de investimento ficou menor. Muita gente viu nisso um problema, mas Nilson Teixeira interpreta de outra forma:

- Não vejo de forma negativa. Se a economia é capaz de crescer com pouco investimento, isso significa que a produtividade era maior que se supunha.

Hoje o IBGE divulga que o número do ano passado ficará um pouco melhor: talvez 3,5%. Isso não conforta um país que tem crescido menos que o mundo sistematicamente. Mas é um dado mais nítido do que se passou na economia. Quando se olha para 2007, de novo, o que se prevê é de 3% a 3,5%. Nenhum espetáculo à vista, nem a prazo.

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