Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 24, 2007

MILLÔR

Nohtas

E já que o futebol é, como todos sabem, o ópio do povo, e, como poucos percebem, o narcotráfico da mídia, é impossível não falar dele, de vez em quando. De vez em quanto.

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Pois o futebol fortalece o caráter, sobretudo a quem não o tem.

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O futebol tem origens remotas e populares, mas foi implantado é pelos grã-finos ingleses. No Brasil, trazido pelos marinheiros do navio "Criméia", também só triunfou quando nossa upper-crust começou a jogá-lo. Com camisa de seda, écharpes coloridas na cintura, até gravatas. Logo o futebol voltou naturalmente ao povo, pela própria facilidade do jogo ­ bastavam uma bola e um terreno baldio (ainda existem?). Seduzidos pela visível possibilidade de ascensão social e econômica, centenas de brasileiros pobres se mostraram craques extraordinários, dominando mundialmente o esporte na segunda metade do século XX. Socialismo é acesso.

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Alguém aí ainda sabe quem foi Coelho Netto, o pequeninho escritor "acadêmico" que, no início do século (o outro, o XX), disputando cadeira na Academia Brasileira de Letras com o "nobre" Graça Aranha, gritava, no ombro dos colegas, seu slogan de campanha: "Sou o último dos helenos!"?

Torcedor do Fluminense, morando ali perto da sede do clube (onde mais tarde moraria toda a família de Nelson Rodrigues), era pai de João Coelho Netto, o Preguinho, atacante imortal do glorioso tricolor. Preguinho foi o maior atleta do seu tempo, campeão, além do futebol, de pólo aquático, basquete, voleibol, saltos ornamentais, atletismo, natação, remo e... hóquei sobre patins!

Tudo amador.

Pois nós, do Flu, somos assim. Enquanto o torcedor do Flamengo se orgulha de ser "Flamengo doente", nós fazemos questão de provar que somos fluminenses saudáveis.

E aperte o cinto, Romário: Preguinho marcou 187 gous.
Nessa época!

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Aí, como sói (sói, Millôr, é isso mesmo?), vieram cartolas, bicheiros, políticos, nacionalismos, ganâncias sem fim (no que vestem os craques, no que bebem, no que fumam, nas campanhas políticas e até no uso das próprias mães), osteopatas, banheiras hidrostáticas, paparicos suspeitos. E a coisa degringolou. Deu no que deu e, sobretudo, no que não deu. O futebol estagnou, presa de táticas estranhas à realidade, à beleza do jogo, técnicos projetando verdadeiras engenharias de trânsito no campo, até a geometria exotérica tipo quadrado mágico, pra marcar (não marcar) um gol. Paradoxalmente, enquanto Vôlei e Basquete se modernizavam, aumentavam a emoção das disputas e seu público, a Fifa, desde que surgiu, em 1904, só fez duas modificações nas regras do jogo. Uma com relação ao impedimento.

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Antes que eu me esqueça: existe coisa mais idiota do que uma regra chamada IMPEDIMENTO?

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Mas sempre sobrou a glória criativa do bestialógico filosófico: "Tanto na minha vida futebolística quanto na minha vida de ser humano..."
Nunes (atacante do Flamengo)

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