Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 27, 2007

DORA KRAMER Sem reforma, sem mais nada


Francamente, não deu para entender a atitude do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Aproveitou que estava cercado de jornalistas para tomar a iniciativa de abordar “uma questão importante”: o caráter secundário, para o governo federal, das reformas política e tributária.

Ora, mas não foi esse mesmo governo que passou quatro anos ressaltando a relevância e urgência das reformas? Não foi o presidente Luiz Inácio da Silva quem, 25 dias atrás, reafirmou compromisso com elas em seu discurso de posse no mandato renovado em outubro? Não foi Tarso Genro quem, na companhia de Marco Aurélio Garcia, defendeu em nome do governo, não faz nem seis meses, a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte exclusiva para tratar da reforma política?

É bem verdade que Lula considerava também outras reformas como essenciais, mas preferiu enterrá-las a ter de enfrentar sua “base social” mexendo na legislação trabalhista e nas regras da Previdência. Uma virou pó e a outra virou fórum, o que dá no mesmo.

Agora o ministro Genro se sai com essa, aparentemente para dar aos governadores insatisfeitos com o Programa de Aceleração do Crescimento um revide pela não adesão imediata às maravilhas curativas para vencer a doença da estagnação propostas ali.

É difícil acreditar que tenha sido essa mesmo a intenção, inclusive porque outras razões possíveis são bem piores que a da picuinha de assembléia estudantil.

Se a idéia é confrontar os governadores, terá tanta eficácia quando um outro plano anunciado com objetivo semelhante: a convocação dos 11 presidentes de partidos aliados para responder, com apoio in

Querer comparar o poder de gente eleita, em alguns casos por milhões de votos, e no comando de orçamentos de bilhões com a força de presidentes de partidos de representação insignificante na sociedade seria uma temeridade, não fosse apenas uma inutilidade.

Como tantas outras iniciativas inábeis, para dizer pouco, essa também tem o condão de deixar mal o próprio autor: quebra um compromisso que o governo mesmo assumiu; reforça a idéia de que o presidente diz uma coisa e faz outra; evidencia que a reforma política só serve como argumento para mudar de assunto quando estoura uma crise ou um escândalo; dá a nítida impressão de que, com o lançamento do PAC, o governo deu por encerrados os trabalhos aos 25 dias do primeiro mês do segundo mandato e pretende viver os próximos quatro anos da publicidade em torno do pacote.

O ministro Genro deu um show de incoerência e carência de espírito público em suas declarações. Reduziu a importância das reformas ao mesmo tempo em que qualificou ambas como fundamentais para o País.

Se são fundamentais e, mesmo assim, são dispensáveis do ponto de vista da governabilidade, quer dizer que o governo abre mão do que é essencial para preparar um futuro melhor para o Brasil porque não quer entrar em bola dividida nem aceita qualquer coisa diferente da concordância total em relação à sua peça publicitária chave do segundo mandato.

Sinaliza incapacidade de arbitrar as divergências e conflitos de interesses e lança dúvidas sobre o que o presidente pretende fazer com a imensa maioria parlamentar montada no Congresso: ou não tem planos objetivos para ela ou tem projetos institucionais ainda inconfessáveis, para os quais precisará de muitos e fidelíssimos votos no Legislativo.

Como as reformas da Previdência, da legislação trabalhista e da estrutura sindical já haviam sido oficialmente deixadas de lado, com essa agora de que o governo Lula dispensará alterações nos sistemas tributário e político-partidário-eleitoral fica decretado o fim - ou o adiamento para o sucessor - do ciclo de reformas. Passam a integrar a lista das inúmeras obras inacabadas que caracterizam a lógica da permanente solução de continuidade patrocinada pelos interesses do governante da ocasião.

Astro rei

O PSDB resolveu não insistir na idéia de tentar conquistar o deputado Fernando Gabeira para suas fileiras.

Percebeu que para Gabeira não é vantagem deixar a condição de estrela única e absoluta do PV para integrar uma constelação de egos à deriva.

O injustiçado

Nelson Motta lembra com arguta pertinência: onde está o senso de justiça do presidente da República, que não devolve o emprego de assessor especial e o gabinete no Palácio do Planalto a Freud Godoy?

Afinal, Lula estava certo quando disse que a Polícia Federal nunca encontraria nada de errado contra “esse menino”.

Inocentados pelas investigações da PF, todos os outros “meninos” envolvidos na armação do dossiê antitucanos seguem suas vidas profissionais e partidárias sem alterações. Menos Freud.

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