Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Uma história ainda sem fim

Caos na terra e no ar

Diego Escosteguy

Gustavo Stephan/Ag. O Globo
Malas extraviadas no aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro: as empresas aéreas deram sua contribuição à balbúrdia

O acidente entre o avião da Gol e o jato Legacy, que matou 154 pessoas em setembro, foi a maior tragédia da aviação nacional. Desde que ela ocorreu, os brasileiros vêm sendo apresentados a um drama: o do setor aéreo. Primeiro foi a greve branca dos controladores de vôo. O movimento revelou que a vida de milhões de viajantes está nas mãos de uma categoria despreparada, mal paga e com sérios problemas funcionais. No rastro da greve, soube-se também que equipamentos vitais para a segurança dos vôos, como os radares, são obsoletos. Nos últimos dias, eclodiu outra faceta do caos: as empresas aéreas, sem nenhum tipo de fiscalização, venderam mais passagens do que seus aviões podem comportar. O resultado dessa combinação de negligência administrativa e desrespeito aos consumidores é visto todos os dias nos aeroportos. Atrasos de vôos que ultrapassam 24 horas, cancelamentos que humilham os passageiros e bagagens perdidas por absoluto desleixo.

Ed Ferreira/AE
Milton Zuanazzi, da Anac: mala perdido

Na semana passada, com três meses de atraso, a Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac, à qual caberia fiscalizar o setor, resolveu agir. Proibiu as empresas de vender passagens em excesso, suspendeu novos fretamentos, mandou auditores investigar a TAM, a campeã de vendas-fantasma, e ameaçou multá-las. É tarde. As passagens já foram vendidas em excesso e muitos passageiros continuarão enfrentando problemas. Criada no início de 2006, a Anac não conseguiu perceber a malandragem das empresas, não conseguiu orientar os consumidores lesados e não conseguiu detectar os problemas dos controladores. A inoperância da agência não chega a surpreender. É conseqüência de uma prática bastante comum nos últimos quatro anos: o aparelhamento dos órgãos técnicos do governo.

O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, não tem nenhuma experiência na área de aviação civil. Ele é engenheiro e em seu currículo aéreo constam passagens pela Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul na gestão petista. Dos outros quatro diretores, dois chegaram pela mesma rota. Denise de Abreu trabalhava na área jurídica da Casa Civil e foi indicada pelo ex-ministro José Dirceu. Leur Lomanto, por sua vez, é ex-deputado federal e pertence à cota do PMDB no governo. Ao assumir o cargo, Milton Zuanazzi anunciou que sua prioridade no comando da agência era "lotar os aviões". Já pode ir para casa.


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