Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 28, 2006

REFLEXOS DE UM REAL VALORIZADO, E DE UM DÓLAR BARATO!

1. Quando se analisa os efeitos de um dólar barato no Brasil, só se leva em conta o impacto sobre o movimento comercial, ou seja, sobre as exportações e importações de bens. A médio prazo -dizem todos- será um desestímulo às exportações e um estímulo às importações o que fechará este superávit atual quando o comercio internacional estiver menos aquecido. Bem, é provável que assim seja.

2. Mas se tomarmos pelo aspecto financeiro poderemos medir o subsídio implícito do Real valorizado.

3. O investidor e o especulador, estarão sempre atentos a dinâmica da cotação a curto e a médios prazos. A curto prazo um dólar barato reduz os riscos dos credores que emprestaram seu dinheiro no Brasil, e com isso o risco-Brasil diminui. O governo e parte da imprensa comemoram como se tratasse da economia brasileira, e não é o caso. Ao contrário.

4. Vejamos o impacto do subsidio implícito no dólar barato. Todos os que em algum momento vão comprar dólares para remeter ao exterior, seja por conta de seus investimentos, seja por conta de remessas de lucros e dividendos, tenderão a antecipar as suas decisões. Esta antecipação em si vai sinalizar a tendência do dólar a médio prazo em função da pressão da demanda sobre a cotação. Se esta mexe pouco é porque ainda há fôlego e o movimento continua.

5. Esta semana este Ex-Blog reproduziu uma matéria da FSP dizendo que as remessas de lucros e dividendos haviam crescido, passando de 6 bilhões de dólares em 2002, a 16 bilhões de dólares em 2006. Na semana anterior este Ex-Blog reproduziu uma matéria do ESP, dizendo que em 2006 os investimentos de empresas brasileiras no exterior, haviam batido recordes e chegavam a mais de 20 bilhões de dólares. Supondo, generosamente, que antes alcançavam 5 bilhões de dólares, teremos um acréscimo de 15 bilhões. No caso das remessas o acréscimo foi de 10 bilhões de dólares. Total de acréscimo: 25 bilhões de dólares.

6. Um dólar considerado pelos exportadores como aceitável, deveria estar no mínimo no patamar nominal da Argentina, ou seja, em 3 reais, já descontando a diferença pela inflação maior da Argentina. Uma diferença de 80 centavos entre os câmbios brasileiro e argentino, que usamos como referencia pela série desde a re-estabilização Argentina. Ou seja, 36% de subsídio, sobre a cotação atual do Real.

7. Se aplicamos estes 36% sobre os 25 bilhões de dólares de acréscimo dos fluxos financeiros, teremos um subsidio implícito dado pelo dólar baixo, de 9 -nove- bilhões de dólares, e que favorecem quem remete lucros e dividendos e quem -por isso mesmo- investe (capitais brasileiros), fora do Brasil, produzindo emprego lá fora.

8. As razões de um dólar barato vem desde o governo FHC e são simples: ajuda a conter a inflação e estimula o consumo da classe média e a acomoda politicamente. Da mesma forma converge com as empresas brasileiras que acreditaram no milagre do cambio baixo de FHC e que depois -com o estouro do cambio em 1999- se tornaram inadimplentes no exterior. Agora estão felizes. Suas dividas receberam também um subsídio implícito. Mas isso nem foi contabilizado aqui. Como não o foi o déficit crescente na conta Turismo.

9. Claro, que -outra vez- as razões que produzem um dólar barato, serão as mesmas -a partir de um certo ponto- que irão estimular a inevitabilidade da mudança de seu patamar. Todos sabem disso. E por isso mesmo todos usam este período de dólar barato para antecipar a sua compra e se dar bem, enquanto é tempo. E -Lula- continua merecendo a confiança do mercado. E como!

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