Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Celso Ming - As bolsas comemoram



O Estado de S. Paulo
29/12/2006

Não é só o Brasil que vai assistindo a um rali no mercado de ações. No mundo inteiro os índices que medem o desempenho das bolsas seguem a galope, batendo recordes sucessivos.

Nos últimos seis meses, o Índice Bovespa (São Paulo) subiu 21%; o Índice Dow Jones (Nova York) subiu 12%; o Nikkei (Tóquio), 11%; o FTSE (Londres), 7%; o Dax (Frankfurt), 16%; o CAC (Paris), 11%; e o Hang Seng (Hong Kong), 23%.

Não é apenas um fator, mas um punhado deles que explica essa festa. O mais importante é a fartura de capitais que circulam nas veias dos mercados.

Como em tanta coisa na economia mundial, a China também tem a ver com essa abundância, na medida em que ajuda a achatar a inflação mundial. A China é uma grande exportadora de mercadorias baratas, porque produzidas a um custo de mão-de-obra que é apenas uma fração do custo vigente nos países ricos e mesmo entre os outros emergentes.

Grande contribuição à queda da inflação mundial também vem sendo dada pelo emprego crescente de Tecnologia da Informação. Aplicada intensivamente ao processo produtivo, está reduzindo o emprego de instalações, máquinas, mão-de-obra e capital de giro. Isso reduz os custos e aumenta a produtividade.

Como as mercadorias vêm caindo de preço, a inflação já não corrói o dinheiro com a virulência registrada no passado. Isso significa que os bancos centrais já não precisam comprimir o volume de moeda, como faziam há alguns anos, para combater a inflação. Para dar conta do serviço, basta uma pequena dose de juros mais altos. Juros baixos, por sua vez, é abundância de dinheiro.

Nessas condições, o detentor de recursos vai procurando oportunidades para aplicação. É o que explica a forte procura por ativos, que não são apenas ações. São também imóveis, títulos, ouro, commodities. Por toda parte, os preços galopam, mais ou menos como acontece com as ações.

No passado, sempre que os preços dos ativos subiam sem muita explicação, os analistas identificavam uma bolha. Talvez porque condicionados por esse passado, muitos têm-se apressado a diagnosticar, também desta vez, a existência de bolhas enormes na economia mundial. São os mesmos que advertem para a iminência de estouros, algo que, de resto, se espera das bolhas.

Há razões para acreditar que não sejam bolhas, tanto que não estouram. São apenas o efeito da desvalorização do dólar (e de outras moedas) em relação a esses ativos. Tanto isso leva jeito de desvalorização do dólar que a cada dia são precisos mais dólares para comprar o mesmo ativo. Enfim, tudo se passa como se o problema não estivesse na alta dos ativos, mas no excesso de dólares que permanece zanzando pelos mercados.

É claro que isso não encerra tudo. Lá pelas tantas, o mercado se espanta, como um bando de rolinhas que voam em debandada a um estalido suspeito. Por um certo tempo, buscam refúgio no dólar, que, bem ou mal, ainda é a referência. Mas, quando se vê que não há perigo, voltam para os mesmos ativos a fim de garimpar retorno melhor para o capital.

A Bolsa brasileira está tirando proveito dessa forte liquidez global. Mas este não é o único fator que vem empurrando tanto a alta dos últimos quatro anos quanto a expectativa de nova alta em 2007, como a tabela acima está sugerindo. Também ajudam nessa possível valorização os juros internos em queda e a percepção de que o presidente Lula não vai fazer besteiras demais na condução da política econômica

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