Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, novembro 27, 2006

PLÍNIO FRAGA Sorry, periferia


RIO DE JANEIRO - Basta ocorrer um crime na zona sul do Rio que reúna algum elemento midiático -uma "socialite" ou turistas estrangeiros envolvidos, por exemplo- para que seja aberta uma nova temporada de declarações estapafúrdias. Ontem, o chefe da Polícia Civil, Ricardo Hallack, saiu-se com esta: "No Rio, a periferia está na zona sul". Merecia ser demitido por falta de conhecimento da área que chefia: na periferia do Rio, o crime é muitíssimo pior.
Para saber disso, bastava ter se debruçado sobre o estudo "Geografia da Violência na Região Metropolitana do Rio de Janeiro -2000 a 2005", que Leonarda Musumeci, Gabriel Fonseca da Silva e Greice Maria da Conceição fizeram para a Universidade Candido Mendes.
A menor taxa de homicídios da região metropolitana é registrada na zona sul, onde vive grande parte da população abastada da cidade: perto de 17 assassinatos para cada cem mil habitantes. É verdade que corresponde a cinco vezes a taxa média de Londres (2,8 por cem mil), mais que o dobro da registrada em Nova York (7 por cem mil), mas é menor do que a do município de São Paulo (25 por cem mil) e do Estado de São Paulo (18 por cem mil).
Na Baixada Fluminense, a verdadeira periferia do Rio, a média de assassinatos é quatro vezes maior do que a da zona sul. Entre 2000 e 2005, a Baixada Fluminense e as zonas norte e oeste registraram 79% dos roubos de veículos do Estado, 78% das mortes em confronto com a polícia, 64% dos homicídios dolosos, 60% dos roubos a passantes e 59% dos roubos em ônibus.
Se os números mostram que a situação da zona sul é grave na comparação com Londres e Nova York, deixam claro também que o quadro na periferia é calamitoso. E o chefe da Polícia Civil deveria saber disso, mas ele muito provavelmente não anda por lá.

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