Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 26, 2006

ELIANE CANTANHÊDE O real complô das elites

BRASÍLIA - A presidente do Supremo Tribunal Federal quer aumentar o próprio salário para R$ 30 mil e os dos colegas ministros para perto de R$ 26 mil.
Como os salários da principal Corte do país definem os limites de remuneração no serviço público, isso pode acarretar um efeito cascata de boas proporções.
E o Conselho Nacional de Justiça, criado há pouco justamente como um "olhar externo" no excesso de independência da Justiça para fazer o que bem entender, quer dar um jeito de aumentar os seus salários de R$ 23 mil para nada módicos quase R$ 29 mil.
Será que vai ser preciso criar um conselho para vigiar o conselho que vigia a Justiça?
Mas a moda pegou ali na praça dos Três Poderes, onde o Congresso também se assanhou todo querendo aumentos para os parlamentares. Os mais modestos, de 30%. Os mais caras-de-pau, de até 90%.
Ninguém questiona que suas excelências, os deputados e senadores, os ministros do Supremo e o Conselho de Justiça têm gabarito e direito a bons salários. O problema é a comparação. E a oportunidade.
Na mesma semana, enquanto eles pediam mais, o governo discutia menos para quem já tem menos -inclusive menos capacidade de pressão. O futuro salário mínimo está sendo cortado de R$ 375 para R$ 367, e os técnicos trabalham freneticamente para aumentar a idade mínima para aposentadoria.
O que fica é isso: os poderosos querem ganhar R$ 30 mil e, ao mesmo tempo, cortar R$ 8 do salário mínimo. Ao contrário daquele nosso conhecido que sempre ganha, seja na condição de fortão ou de fraquinho, no mundo real, à margem do marketing, o "fortão" pede muito e se dá bem, e o "fraquinho" não pede nada e só se dá mal.
E é esse, afinal, o velho, conhecido e verdadeiro "complô das elites".

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