Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, outubro 30, 2006

Miriam Leitão Os motivos de comemoração

Primeiro, obrigada por visitarem sempre este site. Ele tem tido visitas sempre. Comentários sempre. É muito bom ver isso. Visitas e comentários são a medida do sucesso de um site ou blog.

Segundo, eu queria refletir com vocês aqui algumas coisas: entendo como algo normal as críticas e sei que, em época eleitoral, as pessoas ficam mais apaixonadas por seus candidatos e enxergam, em qualquer nota que não seja a louvação do candidato, uma prova de que o jornalista é um “inimigo”. Me lembro que fiz uma nota entrevistando o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, em que ele dizia que, se o presidente não fosse ao debate, ele poderia perder um pouco de votos, poucos mas que fariam falta ao seu plano de ganhar no primeiro turno. Recebi uma saraivada de críticas como se estivesse torcendo para isso acontecer, e estava dando uma informação, tanto que a informação se revelou verdadeira. Esse é o meu papel.

Terceiro, vamos lá às afirmações feitas pela propaganda do presidente Lula que não correspondem à realidade. Ele disse que acabou com a inflação. Não é verdade, quem fez isso foi o Plano Real, contra o qual o PT votou. Ele recebeu um país com inflação bem mais baixa, que estava tendo um episódio de alta pelo temor das idéias que ele havia defendido durante anos. Idéias como: câmaras setoriais e controle cambial, que felizmente nunca foram postas em prática. Lula acertou quando manteve a política de metas de inflação, câmbio flutuante, autonomia operacional no Banco Central e Lei de Responsabilidade Fiscal, tudo o que havia criticado nos anos anteriores a chegar ao poder. O presidente também diz que este é o melhor momento econômico da República, e claro que não é. Em pelo menos 80 anos da República, o Brasil cresceu mais que o mundo. O país cresce pouco, o desemprego é de 10%. É verdade que a área externa vai muito bem, e já escrevi aqui sobre isso várias vezes. Lula diz que a balança comercial superavitária se deve à sua política externa, e não é isso. Quem exporta é o setor privado, e a alta é resultado de um processo em que cada um teve um pouco de mérito: a abertura da economia, a estabilização, o câmbio flutuante; os acertos de Lula ajudaram o setor privado a aproveitar a onda de alta de preços no mercado internacional de commodities. Não existem milagres em economia, nem existe um governo que resolva tudo: quando há continuidade, como houve, ocorrem processos positivos, como o que aconteceu na área externa. Na era Lula, estão sendo criados mais empregos que na era FH, mas o desemprego continua muito alto.

Repito que, se a inflação subir, cai a popularidade do presidente. Isso não é o que eu quero: é o que tenho aprendido que acontece.

Tenho certeza de que, independentemente do seu voto, você, como eu, está torcendo pelo sucesso do Brasil, mas aqui se faz análise, e não torcida. Portanto, posso manifestar meus sonhos e desejos, mas é melhor que eu registre aqui dados e análises. E sonhemos juntos por um Brasil mais justo e mais desenvolvido, meu velho sonho da juventude que eu nunca parei de sonhar. Esta eleição, sem um incidente, com o perdedor desejando sorte ao vencedor, com uma apuração rápida com resultado em que todos acreditam, é prova do amadurecimento da democracia brasileira. Motivo de comemoração.
30.10.2006 | 10h51m

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