Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 30, 2006

Os dois pólos

Os dois pólos Vitória de Lula no primeiro turno depende do impacto das últimas notícias sobre dossiê em seu eleitorado mais fiel

NÃO HÁ notícia, no histórico das cinco eleições presidenciais que o Datafolha acompanhou, de um pleito marcado por uma divisão tão nítida entre estratos sociais e regionais quanto o deste ano. As intenções de voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva são inversamente proporcionais ao nível de renda e escolaridade do eleitor; ocorre o contrário com Geraldo Alckmin.
O petista encontra apoio francamente majoritário no conjunto geográfico que abrange Minas Gerais e os Estados do Nordeste. O tucano bate o candidato à reeleição em São Paulo e no Sul.
Esse padrão, detectado de maneira incipiente já nas primeiras pesquisas que se fizeram visando à sucessão presidencial de 2006, não apenas se manteve mas se pode dizer que foi reforçado ao longo do tempo. Uma espécie de "muralha chinesa" vem protegendo a fatia do eleitorado mais fiel ao presidente Lula do assédio adversário. Essa fortaleza eleitoral mostrou impressionante resistência diante da sucessão de graves escândalos, ao longo da segunda metade da administração petista.
Se Alckmin, de acordo com a pesquisa realizada nesta quarta-feira, atingiu seu maior patamar de intenções de voto no período de campanha, ainda não conseguiu avançar sobre o típico eleitor de Lula. O presidente logrou manter-se no maior nível da série, que vem desde o final de junho, entre os eleitores que declaram ter renda familiar mensal até R$ 700. Há três dias, o petista tinha 58% das intenções de voto nesse estrato, que abrange metade dos eleitores brasileiros.
O mesmo raciocínio aplica-se em relação ao Nordeste -onde Lula, na quarta-feira, mantinha 70% das preferências- e em Minas -onde chegou a crescer três pontos percentuais (para 54%), no último Datafolha.
O que se está a inquirir nestas horas finais de campanha é se as mais recentes notícias a respeito do escândalo do dossiê serão capazes de alterar ligeiramente esse quadro, a ponto de levar a disputa ao segundo turno. Lula desrespeitou os eleitores ao faltar ao debate de anteontem na TV Globo; deixou de dar satisfações, exposto ao contraditório que é típico da democracia, a uma vasta audiência sobre o desmando que envolveu a cúpula de sua campanha à reeleição numa operação clandestina contra adversários.
Agora surgem as eloqüentes imagens das notas de R$ 1,2 milhão e de US$ 248,8 mil apreendidas há duas semanas com dois petistas num hotel de São Paulo. O inquérito da polícia, parece, também vai se aproximando dos sacadores do dinheiro -o que suscita explicações as mais estapafúrdias de suspeitos.
A "muralha chinesa" passa por seu teste decisivo. A identificação do eleitorado de menor renda e escolaridade com Lula -identificação assentada também em melhorias de padrão de vida- está sendo exposta a mais um forte questionamento. Desse último exame de consciência, estimulado mais uma vez por um grave escândalo na política federal, dependerá o resultado da eleição presidencial de amanhã.

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