Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, agosto 28, 2006

Macacos em casa de louça Sandra Cavalcanti




O Estado de S. Paulo
28/8/2006

Para gerar empregos, e num ritmo que se ajuste ao aumento da força de trabalho e diminua as condições estruturais de subemprego, nossa economia precisa crescer. Pelo menos 7% ao ano.

Para sair dos índices fracos atuais, só há um jeito para o Brasil: buscar recursos em economias pujantes. Atrair investimentos oriundos de países cujos habitantes, com folga de dinheiro no fim do mês, aplicam as poupanças em ações, em imóveis, em estudos, em lazer, na aquisição de bens de conforto ou em fundos destinados a garantir-lhes aposentadorias dignas. São esses fundos que, bem dirigidos e bem fiscalizados pelos seus associados, atuam de modo decisivo no seu desenvolvimento.

Para países como o nosso, sem poupança interna, a estratégia para crescer reside em oferecer condições seguras para que as poupanças externas apliquem aqui os seus capitais. Neste século, tudo ficou mais fácil. A instantaneidade das comunicações e as operações em tempo real transformaram o mundo num grande mercado global. Não há distâncias, não há idiomas, não há fronteiras. No entanto é preciso não ignorar que, apesar de todas estas mudanças, a credibilidade ainda é a mola mestra de todas as relações entre pessoas, instituições, países e continentes. Todo crédito significa uma demonstração de fé e confiança. A poupança externa só virá se houver certeza de investimentos seguros, rentáveis e lucrativos.

Normalmente, ela chega por dois caminhos: ou aplicação em investimentos ou em empréstimos. No primeiro caso, como capital de risco. São investimentos geradores de empregos, produtores de bens, contribuintes da Previdência Social, pagadores de impostos, qualificadores de mão-de-obra e transferidores de tecnologias novas. Sua remuneração decorre da remessa de lucros. No segundo caso, trata-se de capital de especulação financeira. Ele se remunera com o lucro alcançado pelo pagamento de juros. Na maioria das vezes, este tipo de aplicação prefere ter como clientes governos e empresas estatais.

Por muitos anos, os países capitalizados preferiram sistematicamente investir sob a forma de capital de risco. As remessas de lucros remuneravam muito mais do que os juros sobre os empréstimos. O capital de risco rendia, em média, bem mais que 11% ao ano, enquanto as taxas de juros dos empréstimos não passavam de 7%.

Mas, no século passado, principalmente após a primeira crise do petróleo, a situação se agravou. Com a segunda crise, então, ficou insuportável. O quadro se inverteu. A rentabilidade da remessa dos lucros caiu, enquanto as taxas de juros subiram como rojões! Para cada US$ 100 aplicados em capital de risco, os lucros remetidos não chegavam a US$ 7! Para os mesmos US$ 100 aplicados em empréstimos, os juros altíssimos davam um retorno de mais de US$ 15!

País que necessita de capital não pode oferecer riscos. Se isso acontece, os recursos só chegam sob a forma de empréstimos, a juros escorchantes! É do olho desse furacão que o Brasil vem tentando sair.

Desde o governo de Itamar Franco o Brasil vem trabalhando para recuperar a credibilidade perdida. Com enormes sacrifícios e muita seriedade, o governo Fernando Henrique Cardoso conseguiu fazer grandes avanços. Nem mesmo a chegada de Lula ao Planalto teve força para destruir os progressos alcançados.
O povo brasileiro sentiu o gosto de ter uma moeda firme. Viu o combate à inflação dar aumento real ao seu salário. Percebeu a diferença entre viver o sobressalto das remarcações de preços e a estabilidade do custo de vida.

Mesmo tendo atrapalhado todos os esforços iniciais para esta arrancada, o PT, chegando ao governo, não teve como atirar os troféus pela janela. Ao contrário, de forma desleal, espalha que todo o sucesso do Brasil é obra sua. Só que, agora, se ganhar um segundo mandato, promete que a coisa vai mudar! Com o País “arranjadinho” o PT vai impor as suas teorias retrógradas sobre economia.

O susto já se instalou. Surgiram os primeiros efeitos. Investimentos programados para o Brasil já estão sendo redirecionados para outros países em desenvolvimento. Os investidores desconfiam que não serão bem-vindos e que seus interesses e propriedades não estarão garantidos pelas leis e pelo governo. Sabem que são considerados espoliadores que vão pôr nossa soberania em risco.

Francamente, a soberania de nosso país só corre perigo se a incompetência e a corrupção se derem as mãos e o País for anestesiado por ideologias atrasadas e por incapacidade gerencial. Esse é o risco real que corremos. Não o capital de risco, vindo de fora e aqui aplicado. Não. O risco vai ser abandonarmos a economia de resultados que vem sendo praticada no mundo moderno, retroagindo para uma economia de ideologia.
Queremos empregos para as gerações jovens. Queremos salários dignos. Queremos estabilidade social, oportunidades de estudo, garantia de saúde e fundos de pensão eficientes e atuantes.

Escandaliza ouvir gente dizendo que o capital de risco, que vem de fora, é espoliador! Pode alguém acreditar que, com essa visão, o Brasil vai continuar a merecer crédito internacional? Quem espalha essas bravatas só o faz porque sabe que a maioria de nossa gente não tem condições críticas para analisá-las. O pior, porém, é que esses bravateiros podem ser sinceros. E se forem?

Pobre País! Corremos o risco de ver a economia do Brasil, de novo, gerenciada desastradamente por macacos em casa de louça...

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