Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 31, 2006

Barrado na festa Rolf Kuntz


artigo -
O Estado de S. Paulo
31/8/2006

O Brasil está fora da próxima redistribuição de cotas - e do correspondente poder de voto - anunciada pelo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), o espanhol Rodrigo de Rato. China, Coréia do Sul, México e Turquia serão os premiados nessa rodada, primeiro passo de uma reforma da instituição. O governo brasileiro esperneou nos últimos dois anos para ser incluído na lista, mas o esforço, até agora, não deu certo. Desde os anos 90 a reputação brasileira melhorou muito, entre os dirigentes e os grupos de maior influência nas principais instituições financeiras internacionais. Mas durante 20 anos o País cresceu muito menos que outros emergentes e isso tem um preço político.
O FMI está em busca de um novo papel na economia mundial. Continuará a ser um emprestador de última instância, mas deverá dedicar-se muito mais à prevenção de crises do que às funções de pronto-socorro. Deverá reforçar seu trabalho de coleta e distribuição de informações e de análises sobre o estado da economia mundial. Seus dirigentes ambicionam transformá-lo num centro de orientação e de articulação de políticas.
Mas a instituição precisa também reforçar sua legitimidade.
A redistribuição de cotas e de votos é parte dessa tarefa. Será preciso dar maior peso às economias em desenvolvimento. Mas, para começar, será necessário reconhecer a importância relativa conquistada nas últimas décadas por algumas economias.
A extensão da mudança é desconhecida, por enquanto, e ainda vai depender de negociações.
Para começar, haverá uma redistribuição ad hoc para correção de algumas distorções mais evidentes. A China tem apenas 2,94% dos votos, embora sua economia seja maior que a da Itália e pouco menor que a da França. O México tem 1,20%, a Coréia, 0,76% e a Turquia, 0,45%. O Brasil tem 1,41% dos votos, embora sua economia, pelas medidas oficiais, tenha o dobro do tamanho da belga. Mas a Bélgica tem uma participação bem maior, 2,13%.
O Brasil nunca foi mencionado pelos dirigentes do Fundo nas discussões sobre a primeira redistribuição de cotas. Aparentemente, Publishsó há uma explicação para isso: nos últimos 20 anos, o País perdeu posições na economia global, enquanto outros emergentes avançaram.
Entre 1990 e 2004, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro aumentou 30,7%, segundo as medidas convencionais. No mesmo período, a economia chinesa cresceu 444,7%, de acordo com a tabela divulgada em abril deste ano pelo Banco Mundial. A Coréia acumulou uma expansão de 157,7% nesses 14 anos, com desempenho igual ao mexicano (157,5%). Enquanto isso, a Turquia dobrou sua produção.
Em 1990, China, Coréia e México tinham economias menores que a brasileira, pelos padrões tradicionais de cálculo.
Em 2004, cada uma das três havia superado o Brasil. Nesse ano, o PIB brasileiro chegou a US$ 604 bilhões. O da China alcançou US$ 1,93 trilhão, o da Coréia, US$ 679,7 bilhões, e o do México, US$ 676,5 bilhões. A Turquia continuava atrás, com US$ 302,8 bilhões, mas havia partido, em 1990, de apenas US$ 150,6 bilhões.
Os analistas têm apresentado explicações variadas para a diferença entre o desempenho desses países e o do Brasil. Mas alguns pontos parecem fora de dúvida. Todos esses países tiveram, na maior parte do tempo, economias menos instáveis que a brasileira. Alguns enfrentaram crises, mas conseguiram vencê-las mais prontamente.
Não atravessaram períodos tão longos de inflação (com exceção da Turquia), exibiram condições fiscais mais favoráveis e deram mais atenção ao comércio externo.
Entre 1990 e 2004, o valor das exportações brasileiras aumentou 207,1%. A receita chinesa das vendas ao exterior cresceu 855,6%. A coreana, 290,4%. A mexicana, 364,4%. A turca expandiu-se 387,1%.
O governo brasileiro só começou a cuidar seriamente da inflação em 1994, quando abandonou, apesar da forte oposição de alguns grupos, o recurso a soluções mágicas. A arrumação fiscal, ainda hoje incompleta, só começou para valer a partir da renegociação das dívidas de Estados, da primeira reforma da Previdência e da aprovação de leis para disciplinar as finanças públicas. A abertura da economia começou nos anos 90 e isso permitiu notáveis ganhos de produtividade, mas seus efeitos só se tornaram mais sensíveis a partir da mudança cambial de 1999.
Os efeitos dessas mudanças ainda estão sendo colhidos, mas é preciso completar o trabalho para destravar de uma vez a economia. O resto é pensamento mágico.

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