Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 29, 2006

VEJA Sucessão As chances de Alckmin chegar ao segundo turno





54 000 votos por dia

É o que Alckmin precisa conquistar até o
dia 1º de outubro para chegar ao segundo
turno. Nos últimos quarenta dias, o tucano
ganhou uma média diária de 170 000 eleitores


Marcelo Carneiro e Camila Pereira


A semana passada reservou uma boa notícia para Geraldo Alckmin. De acordo com pesquisa Ibope divulgada na última terça-feira, o candidato do PSDB conseguiu diminuir a distância que o separa do presidente Lula. No início de junho, um levantamento do mesmo instituto dava 48% das intenções de voto a Lula e apenas 19% a Alckmin. Na semana passada, o presidente continuava na dianteira, mas com um índice menor (44%), e Alckmin subia para 27%. Em valores porcentuais, a diferença entre os dois candidatos diminuiu 12 pontos. A partir desses dados, VEJA transformou as porcentagens em números absolutos. O resultado mostra que, em um período de um mês e meio, enquanto Lula perdeu 8,8 milhões de votos, o tucano conquistou 7,4 milhões de eleitores – 170.000 por dia. A performance não é suficiente para abalar o favoritismo de Lula, mas sinaliza que a candidatura tucana conseguiu embarcar em uma trajetória ascendente – e diminuir bastante as chances de o presidente liquidar a fatura já no dia 1º de outubro. Hoje, para "cavar" um segundo turno, Alckmin precisa ganhar, em média, 54.000 votos por dia – menos de um terço do que vem conquistando diariamente, desde o início oficial da campanha. Se mantiver esse número mínimo de 54.000 votos diários, chegará ao dia 15 de agosto, quando estréia o horário gratuito, precisando de 2,6 milhões de votos para alcançar o segundo turno. Para conquistá-los usando só o tempo do programa eleitoral (527 minutos, distribuídos entre os dias 15 de agosto e 28 de setembro), Alckmin terá de ganhar 5.000 eleitores por minuto.

Os números da pesquisa Ibope tiveram ainda o efeito de esfriar a candidatura Heloísa Helena. A candidata do PSOL, que tinha 6% das intenções de voto na pesquisa anterior do mesmo instituto, apareceu com 8% – uma oscilação que não chega a ultrapassar a margem de erro da pesquisa. Em levantamento anterior, do Datafolha, divulgado há duas semanas, a senadora por Alagoas alcançava a marca de dois dígitos (10%) e registrava um crescimento de 4 pontos porcentuais. Além de animarem a campanha do pequeno PSOL, os números do Datafolha, na ocasião, ajudaram a difundir uma tese: a de que a possibilidade de um segundo turno dependia do crescimento de Heloísa Helena. O segundo turno ocorre quando a soma dos votos válidos do candidato mais bem colocado no primeiro turno é menor que a dos demais concorrentes. É evidente que, à medida que a senadora aumenta seus índices, também diminui a distância que separa Lula dos demais candidatos.

É um erro, no entanto, supor que a candidatura da musa do PSOL seja hoje o principal fator a determinar a existência de um segundo turno. Uma análise das duas pesquisas mais recentes do Ibope mostra que não foram os 2 pontos a mais de Heloísa Helena os responsáveis pela aproximação entre os índices de Lula e a soma das intenções de voto de seus adversários. No início de junho, essa distância era de 20 pontos porcentuais. Na pesquisa da semana passada, ela havia diminuído para 6 pontos porcentuais. Isso significa que, nesse período, a vantagem de Lula sobre os demais candidatos encolheu 14 pontos – 8 deles vieram da subida de Alckmin e 4 da queda de Lula. Ou seja, a possibilidade de ocorrer um segundo turno deve-se, sobretudo, ao crescimento do tucano nas pesquisas.

Para os integrantes da campanha de Heloísa Helena, os resultados do Ibope foram particularmente frustrantes por um motivo: uma subida maior nesta fase poderia servir de "colchão" para uma provável estagnação da candidata a partir de 15 de agosto. É nessa data que terá início o programa eleitoral na TV, no qual a senadora tem exíguos dois minutos, contra quinze de Lula e 21 de Alckmin. "Para crescer, Heloísa Helena precisa de mais visibilidade", diz o analista político Gaudêncio Torquato. Já em relação à candidatura Alckmin, a expectativa aponta para o sentido inverso. Como o tucano terá o maior tempo de TV entre todos os candidatos, ele deverá aumentar de forma significativa seu índice de conhecimento entre o eleitorado. Lula é conhecido por 95% dos eleitores brasileiros, segundo pesquisa do Ibope feita em junho. Já o porcentual de conhecimento de Alckmin está em 53%. Os comandantes da campanha tucana contam com a ampliação desse índice para incrementar a candidatura do ex-governador paulista. Os aliados de Alckmin também estão animados com a possibilidade de que, num eventual e cada vez mais provável segundo turno, a maior parte dos votos dados a Heloísa Helena sobre para o ex-governador. Pelo último levantamento do Datafolha, 39% dos eleitores da senadora que assumiram ainda não ter certeza de seu voto apontam Alckmin como segunda opção. Apenas 21% afirmam que votariam em Lula.

Mas o Ibope também trouxe más notícias para o tucano. A pior delas é que, no Nordeste, ele continua perdendo feio para Lula. Enquanto o presidente descansa sobre 66% de intenções de voto, Alckmin tem míseros 13 pontos. "Nosso desafio agora é fazer a máquina dos partidos aliados no Nordeste ser acionada ainda antes do início do programa de televisão", diz o senador Jorge Bornhausen, do PFL, um dos principais comandantes da campanha tucana. Embora a candidatura de Alckmin ainda encontre resistências mesmo entre aliados (a ex-governadora do Maranhão pelo PFL, Roseana Sarney, por exemplo, declarou que insiste em se manter neutra na disputa), os ventos favoráveis que vêm soprando em sua direção animaram correligionários que, até recentemente, haviam manifestado apoio apenas discreto a ela. É o caso do candidato à reeleição para o governo de Minas, Aécio Neves. Quando foi à cidade de Governador Valadares como pré-candidato, em maio, Alckmin patinava num patamar de 20% nas pesquisas. Aécio não pôde recebê-lo: estava inaugurando uma obra em São João Del Rey. Há duas semanas, quando o Datafolha já apontava a subida do tucano, o governador mineiro encontrou tempo para acompanhá-lo no estado – não uma, mas duas vezes. Os milagres que as pesquisas não fazem.

Com reportagem de Renato Piccinin
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