Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 28, 2006

Luiz Garcia - Obrigação de escolher

Luiz Garcia - Obrigação de escolher


O Globo
28/7/2006

Claro, a eleição presidencial é a mais importante de todas. Mas a escolha dos representantes do estado no Congresso e o voto para assembléias e governos locais têm amplas e muitas vezes pesadas conseqüências no dia-a-dia do eleitor.

Como acontece conosco, cariocas e fluminenses. Respeitadas as exceções de praxe, parece bem fraquinha a nossa constelação de eleitos, não? Há, com certeza, nomes com boas notas em caráter e competência, mas a turma que mostra inapetência para o trabalho honesto e apetite voraz para se arrumar na vida sempre nos parece numerosa demais.

Por exemplo, no escândalo dos sanguessugas, o Estado do Rio está na pole position : tem o maior número de congressistas investigados (16), com vantagem folgada sobre São Paulo, segundo colocado no ranking infame, com 12 envolvidos.

Em outra lista, que abriga 426 administradores públicos multados e declarados inelegíveis pelo Tribunal de Contas estadual, 16 são candidatos nestas eleições. O TCE cobra dessa turma um total de R$ 3,5 milhões, custo de sua má gestão. Mas é quase certo que o eleitorado não saiba quem são.

Na área municipal — que não tem eleição este ano, mas convém não a esquecer — o Tribunal de Justiça outro dia declarou inconstitucionais 237 leis aprovadas desde 2000, e ainda vai decidir sobre outras 87. Parece prova suficiente de índices altos de demagogia e incompetência legislativa.

No governo estadual, está terminando uma administração do PMDB (que seria mais adequado definir como do PMDB do Garotinho, já que o Primeiro Esposo apenas acampa no partido) tão demagógica e ineficiente como a anterior, do PT. O crepúsculo da gestão foi marcado por uma campanha exaltando dez mil realizações que, foi-se ver, eram em grande parte notável obra de ficção.

Tudo isso é lenha para a fogueira do voto nulo, compreensível reação de diversos eleitores desalentados. Compreensível, mas— acentue-se — uma decisão que mais registra desalento do que sabedoria. Teoricamente, uma maioria de votos nulos inviabilizaria o processo eleitoral e seria um tratamento de choque nas doenças da corrupção e da incompetência. Na prática, o voto nulo é apenas uma desistência: faz o jogo do candidato que, com dinheiro ou lábia, adquire votos por atacado.

Com tudo isso, é importante sempre lembrar que há candidatos bons em todas as disputas. E não é tão difícil assim identificá-los: afinal, a vida pública continua realmente pública, graças a Deus. A mídia relata variados casos e exemplos, e o próprio comportamento dos candidatos nas ruas e na propaganda obrigatória ajuda o eleitor a não ser enganado. Pelo menos, não ser enganado mais de uma vez.

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