Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 30, 2006

ALBERTO TAMER E eles ainda vêm conversar!

ESTADO

O diretor-geral da OMC suspendeu por tempo indeterminado as negociações para liberalizar o comércio agrícola mundial. É a pedra de cal para quem esperava um novo prazo. Não tem prazo nenhum simplesmente porque todos os outros, desde a criação da OMC, em 1995, fracassaram. E a própria OMC só foi aprovada, à última hora, num transe de desespero, porque se deixou de fora exatamente a questão agrícola que ainda hoje perdura, insolúvel. Nada se fez e nada se fará na medida em que a OMC se amplia, com mais países pobres e ricos aumentando o clube e distanciando interesses e ambições.

O mundo globalizou-se e os países passaram a ter menos importância. Após muitas reuniões inventaram a de Doha, em 2001 (!). Esta, sim, era para valer, diziam. Nada. E veio Genebra, enterrando tudo por mais alguns anos. E assim os passeios agrícolas continuaram sem resultado algum.

SÓ NÓS ACREDITAMOS
Os dois membros importadores dominantes, EUA e UE, eternos protecionistas, sempre criavam entraves e diziam não. E repetiram agora. O grupo inicial dos países agroexportadores, liderados então pelo Brasil, fracionou-se (G-10, G-15, G-20 - sei lá eu mais quantos "Gs") e só nós continuamos a acreditar na OMC e em Doha. O governo atual não estimulou acordos bilaterais ou multilaterais. Sobrou apenas o pobre do Mercosul. O ministro Celso Amorim ainda diz que acredita no renascimento, mas, na verdade, nem ele consegue convencer-se a si mesmo. Sabe que erramos. E continuamos a errar?

CHEGA MISS SCHWAB
E neste clima de desânimo, em que só os países que fizeram acordos bilaterais se salvaram, chega ao Brasil a representante comercial dos EUA, Susan Schwab. Dizem que vai tentar salvar algo, falará sobre a inflexibilidade da Índia, fará um gesto de carinho ao Brasil que saiu ferido e magoado.

Mas nesse mesmo dia um importante senador americano, Chuck Grassley, presidente da Comissão de Finanças do Senado e membro do Partido Republicano, do governo, faz sérias críticas e ameaças ao Brasil e o culpa, com a Índia, de ter entravado as negociações de Doha!!! Eles, os americanos, os mais intransigentes que fecharam questão de não ceder mais nada na liberalização agrícola, assim que sentaram na mesa de negociações. E nós, que representamos 1,1% do comércio mundial é que somos os culpados. Temos de ser punidos!

E BUSH? É BUSH...
Dizem que o presidente instruiu Schwab a "ser flexível" com o Brasil, em outras palavras, faça gestos de carinho, de amizades, afinal, somos todos americanos e tem aquele tal de Chávez por lá...

Mas não foi ele mesmo que mandou endurecer as negociações em Genebra? Isso é público!!! A pobre Schwab ficou até sem jeito ao ter mudado de posição desde a última reunião de Hong Kong! Nesse mesmo dia da sua vinda para Brasília, Bush afirmou textualmente na Associação Nacional da Indústria (e nem era a da Agricultura...) em Washington:
"Creio nas relações comerciais, mas acredito também em relações comerciais que abram mercados como o nosso, é isso que eu apóio." E, querem saber o que eu penso? Ele tem razão. Importam US$ 2 trilhões por ano, têm um déficit comercial da casa dos US$ 800 bilhões, maior que o PIB brasileiro! E nós não nos aproveitamos dessa abertura, só exportamos ínfimos US$ 24,4 bilhões.

Queremos proteger nossas indústrias, mas elas não precisam da animosidade dos EUA, têm seus próprios adversários aqui, que tributam pesado,impõem juros altos, contam com uma burocracia que, em grande parte, atrasa em quase 40 dias o prazo entre produção e embarque, e agora mascaram um "favor cambial", enquanto fazem tudo para manter o real lá nas alturas, a moeda mais cara do mundo!!! E esse "favor" de poder reter 30% do câmbio lá fora fica ainda na dependência do Conselho Monetário Nacional...

Em meio a este clima interno incrivelmente desfavorável às exportações, exatamente quando o comércio exterior se expandiu nos dois últimos anos de forma extraordinária, nós vamos reclamar de quem? Dos Estados Unidos? Da Europa? Não seria melhor de Brasília?

MAS TEMOS A ÁSIA!
Agora todos confiam na Ásia, que nos importa matéria-prima e exporta produtos acabados; mas nem mesmo isso consola. Ela representa 18,7% das nossas exportações, que, acrescentados os 5,7% da China, superam em apenas 3,4% o da União Européia. Parece que descobrimos um novo mundo, mas nos esquecemos de que um novo mercado menos confiável que o americano e europeu, nossos parceiros tradicionais. É, principalmente, um mercado que está importando mais não apenas commodities e produtos, mas também empresários e fábricas brasileiras. E esses países asiáticos, que também fazem parte da OMC, não são mais parceiros confiáveis. No fundo, somos nós mesmos, isolados. Nós que representamos pouco mais de 1% do mercado mundial. Não temos um comércio diversificado, mas fragmentado que exporta basicamente matéria-prima.

É UM PAÍS PARA TER TUDO
De qualquer forma, temos a obrigação de ser delicados. Seja bem-vinda, senhora Susan Schwab. A senhora terá toda nossa atenção e carinho. Boa estada aqui, neste país tão lindo, de tantas paisagens lindas, como a senhora, e tantas oportunidades perdidas, perdidas, sim, mas que ainda podem ser recuperadas.

Madame Schwab, a senhora não poderia nos contar um pouco como é que vocês conseguiram fazer tudo isso no mesmo período de vida que vivemos juntos? Sabe, este é um país imenso, calmo, tranqüilo, sem vulcões, terremotos ou furacões, tem um povo maravilhoso, paciente, operoso, mas é um país que ainda nãos encontrou os caminhos que vocês, nos nossos mesmos séculos de vida, descobriram para crescer.

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