Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 28, 2006

SERGIO COSTA Do circo ao cerco social

FOLHA

RIO DE JANEIRO - Dos 17 falcões mostrados pelo documentário sobre meninos do tráfico, o único ainda vivo, o preso Sérgio Teixeira, 21, foi parar domingo no "Faustão". No ar, recebeu ofertas de donos de circo para aprender o ofício de palhaço. Dá nisso a TV transformar tudo na vida em show. Mas o saldo de uma semana de overdose de exibições e de busca pela repercussão das imagens do vídeo foi positivo. O Brasil A foi apresentado formalmente ao Brasil B. O encontro gerou debates e algum fluxo de informações.
Segundo a inspetora-pop Marina Magessi, fora das favelas mais "badaladas", como Rocinha, Mangueira e algumas outras, o tráfico está em crise. Há morros menores com "apenas um fuzil e algumas pistolas". Ela deve saber o que fala. E o que ela diz bate com a afirmação do coordenador cultural do AfroReggae José Júnior: seu grupo paga mais pelo trabalho de jovens do que o crime.
Fora do eixo Rocinha-Mangueira, com seus "consumidores" de classe média, a venda de maconha e cocaína focou seu público-alvo na comunidade. Criou o sacolé-fidelidade -"compre dez e cheire 11", como mostrou a Folha domingo. O baixo poder aquisitivo dos usuários e a ganância de maus policiais -"se acabar o tráfico, acaba a polícia", dizia um dos falcões- deixaram alguns traficantes do varejo no vermelho.
Além disso, eles enfrentam no "asfalto" a concorrência de drogas sintéticas importadas da Europa. Ecstasy, LSD e outras repetem hoje o boom da cocaína dos anos 80: transformam filhos da elite carioca em traficantes e a casa dos seus pais em "bocas". Drogas são negociadas até pela internet.
De volta ao Brasil B, o debate pós-falcões -se é tudo verdade- parece revelar uma "janela de oportunidade" para enfrentar nossas mazelas. Dá para começar pelas beiradas. Nos locais onde o tráfico está em crise, mais propícios a uma invasão social e cultural do Estado e de grupos como o AfroReggae. Exemplos não faltam para animar governos a retomar, na paz, territórios abandonados. Mas dá trabalho. Votos? Só a perder de vista.

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