Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 25, 2006

CELSO MING Medíocre

OESP

Foi a decepção esperada. No ano passado, o avanço do PIB brasileiro, que é a renda nacional, foi de apenas 2,3% em relação ao de 2004. O gráfico diz muita coisa: mostra o quanto o Brasil ficou para trás entre 24 países emergentes.

O que mais limitou a velocidade desse carro não foram os freios; foi a baixa injeção de combustível no motor. Foi o dinheiro (a gasolina da economia) curto que segurou tudo.

Em outras palavras, os juros começaram a subir em setembro de 2004, atingiram os 19,75% ao ano em maio de 2005 e lá ficaram até agosto. A atividade econômica ficou estrangulada, o motor engasgou.

Desdobradas, as Contas Nacionais ontem divulgadas pelo IBGE permitem as seguintes observações:

(1) Derrapada no agronegócio - O maior fiasco de 2005 foi a agropecuária, que nos anos anteriores vinha dando show. Cresceu apenas 0,8% em relação ao ano anterior. O mau desempenho de segmentos importantes, como a citricultura e a triticultura, já vinha antecipando o desapontamento. Mas não se esperava número tão ruim.

(2) Melhorou a indústria - O terceiro trimestre de 2005 havia mostrado problemas na produção industrial (queda de 0,9% em relação ao trimestre anterior). O trimestre seguinte mostrou razoável recuperação (crescimento de 1,4%). Se vai engatar a terceira marcha, em dois meses saberemos.

(3) Mais consumo - Paradoxalmente, foi o Consumo das Famílias que mais se expandiu: 3,1% no ano. Maior aumento da demanda com produção mais apertada deixa claro que 2005 foi um ano de redução de estoques. Isso tem o lado bom de exigir maior esforço futuro da produção para dar conta da demanda. Mais comida na barriga acabou amortecendo na população a sensação de que a economia teve desempenho medíocre. E vai render muito voto; isso vai.

(4) Retomada do investimento - Quando foram divulgados os resultados do terceiro trimestre, alguns analistas entenderam que a queda do investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) prenunciava problemas futuros de produção. A recuperação subseqüente ainda não satisfaz, mas parece afastar esses temores. No ano passado, o investimento avançou só 1,6% (comparado com os 10,9% do ano anterior), influenciado pelo baixo desempenho da construção civil, que pesa cerca de 80% nessa subconta.

Nessas horas, as autoridades preferem dizer que é preciso olhar para frente em vez de insistir no uso do retrovisor. Como há mais combustível chegando ao motor (juros em queda), a tendência é de retomada.

O aumento do consumo, já estimulado pelo aumento do crédito e ainda a ser estimulado a partir de abril pelo aumento de 17% do salário mínimo e pelas despesas eleitorais, ajudará a recuperação. Mas ainda não vai ser em 2006 que a economia vai tirar o atraso. Crescimento superior a 3,5% seria uma surpresa.

A expectativa é de que a superação da vulnerabilidade externa (propensão à fuga de dólares), mais austeridade fiscal e a queda dos juros estejam pavimentando a estrada para o crescimento sustentado, tão esperado. A conferir.

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