Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 29, 2006

Editorial da Folha de S Paulo

FALTA MUITO
 
As notícias recentes sobre a redução do desemprego e a recuperação da renda -seja em dezembro, seja em 2005 como um todo- nas maiores regiões metropolitanas do país devem ser recebidas, naturalmente, com alívio e satisfação. Mas é importante colocar esses resultados em perspectiva para aquilatar o muito que ainda falta para que esteja configurada uma recuperação mais profunda e consistente do mercado de trabalho brasileiro.
É importante assinalar que a velocidade da expansão das vagas de trabalho foi menor em 2005 do que em 2004. É o que mostram tanto o Cadastro Geral de Empregos (Caged) do Ministério do Trabalho, em âmbito nacional, mas restrito aos empregos com carteira assinada, como a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, que abarca ocupações formais e informais, mas tem abrangência geográfica restrita às seis maiores regiões metropolitanas do país.
Essas fontes de informação revelam mais dois aspectos que cumpre ressaltar. O primeiro diz respeito ao comportamento da ocupação ao longo de 2005: o movimento de desaceleração foi mais nítido no segundo semestre -o que não surpreende, dado que o aumento de juros iniciado em setembro de 2004 pelo Banco Central tenderia a levar certo tempo para produzir efeitos de contenção sobre a demanda e o emprego.
Outro aspecto que ambas as fontes evidenciam é que a perda de dinamismo da criação de empregos foi mais intensa no setor industrial. Trata-se de um resultado associado não só à política monetária contracionista mas também ao processo violento (para o qual contribuíram os juros altíssimos) de apreciação da moeda nacional. Em alguns segmentos industriais cuja competitividade, seja no mercado interno, seja no externo, é sensível à valorização cambial, houve mesmo fechamento líquido de vagas de trabalho formal em 2005 (isto é, as demissões superaram as admissões). São os casos dos setores calçadista e de madeira e mobiliário.
Olhando para a frente, essa perda de dinamismo não chega a invalidar a perspectiva de continuidade da melhora do mercado de trabalho em 2006. Mas alerta para a possibilidade de que essa melhora seja de novo mais tênue do que no ano anterior.
As candidaturas presidenciais que se esboçam procurarão explorar de modos diferentes esses resultados. Os governistas tentarão incutir no eleitorado a impressão de que o processo de melhora em curso é o mais rápido e saudável possível. Os oposicionistas ressaltarão as limitações do processo e prometerão acelerá-lo.
Ninguém mais discute que a condução da política econômica do governo atual repete a da administração anterior. Os resultados da economia -ritmo de crescimento modesto com baixa criação de empregos- tampouco destoam.
Os partidos mais cotados nas pesquisas para a eleição presidencial de outubro -PSDB e PT- terão de buscar justificativas convincentes para as seguintes constatações: a taxa de desemprego, embora caia, continua bastante mais alta do que em meados da década passada; e o poder de compra dos trabalhadores, ora em modesta recuperação, é também inferior ao de dez anos atrás.

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