Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 24, 2005

VEJA Diogo Mainardi Uma anta na minha mira


"Tentei derrubar Lula por esporte. Há
quem pesque. Há quem cace. Eu não.
Prefiro tentar derrubar Lula. Ele é
minha anta. Ele é minha paca"

Hebe Camargo me telefona de duas em duas semanas. Pelo menos acho que é a Hebe Camargo. Ela nunca se apresentou. Mas o tom de voz é dela. O jeito de falar é dela. O último telefonema foi assim: 

HEBE: Por que você abaixa a cabeça toda vez que aparece na televisão?

EU: Não sei.

HEBE: Precisa parar com isso.

EU: Vou tentar.

HEBE: Quando você perder o emprego, conte comigo.

EU: Não vai demorar muito.

HEBE: Pode trabalhar como meu segurança.

EU: Você paga bem?

HEBE: Pago.

EU: Minha forma física não anda muito boa.

HEBE: Não importa. Eu te amo.

EU: Eu também te amo.

Hebe Camargo me ama. Eu amo Hebe Camargo. É um bom resumo do que aconteceu no Brasil em 2005. Desconfio que, até o ano passado, ela jamais tivesse ouvido falar em mim. Justamente, aliás. Agora ela não só me conhece, como me faz propostas tentadoras pelo telefone. Eu sou um dos muitos personagens obscuros que, com a crise política, conquistaram glória passageira. Como o tesoureiro do PL. Como a cafetina dos ribeirão-pretanos. Como o doleiro dos petistas. Como a secretária de Ideli Salvatti. A secretária de Ideli Salvatti foi convidada para posar nua na Playboy. Eu fui convidado para falar sobre Ivete Sangalo no programa do Faustão. Não pude aceitar porque não sabia quem era Ivete Sangalo. Depois me informei. É aquela do comercial da Chevrolet.

Passei o ano todo amolando Lula. Dediquei-lhe mais de trinta artigos. Prometi derrubá-lo em 2005. Fracassei. Prometo derrubá-lo em 2006. Chegaram a atribuir motivos ideológicos à minha campanha contra o presidente. Não é nada disso. Tentei derrubá-lo por esporte. Há quem pesque. Há quem cace. Eu não. Prefiro tentar derrubar Lula. Ele é minha anta. Ele é minha paca. O fato é que atirei tanto, e em tantas direções, que acabei atingindo um monte de alvos. Virei o cacique Cobra Coral do parajornalismo. O cacique Cobra Coral é um espírito que, segundo aqueles que o encarnam, conseguiu prever o 11 de Setembro, o tsunami, a data exata do ataque americano a Bagdá e o paradeiro da filha de Silvio Santos. Como se não bastasse, ele está à frente da Tunikito Corporation, que usufrui benefícios fiscais para atuar no ramo dos seguros de vida e no do aluguel de automóveis importados. Eu não tenho automóveis importados para alugar. Mas ninguém pode dizer que não previ a ruína de Lula.

2005 acabou. O que vai sobrar deste ano, felizmente, não é a canalha política, e sim a história pessoal de cada um de nós.

Em junho, nasceu meu segundo filho:


No fim do ano, meu filho mais velho conseguiu dar dezesseis passos:


Como disse Voltaire, o que é preciso é cultivar nosso jardim.

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