Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 28, 2005

O Banco Central e o paradoxo do dólar Sonia Racy


ESTADÃO

 

Agora, que de dívida interna em dólar restam apenas papéis (NTN-A e NTN-I) de longo prazo, que não devem ser mexidos, qual seria o caminho para o BC em suas intervenções no mercado? Há dois rumos possíveis, segundo Alexandre Póvoa, do Modal Asset: reduzir progressivamente ou até interromper as intervenções cambiais, ou permanecer com este nível de intervenção. "Um volume diário de US$ 400 milhões de swap cambial reverso, além de caracterizar uma posição ativa do BC (em relação à dívida interna), é muito alto para ser absorvido pelo mercado." Póvoa considera que tal estratégia poderia ser compatível com a manutenção do ritmo de queda na taxa Selic de 0,5%. "Imaginem, porém, se, até a próxima reunião do Copom, o dólar voltar a R$ 2,40 e o BC escrever em sua ata: 'com o aumento da taxa de câmbio de R$ 2,25 para R$ 2,40, nosso modelo de metas estima uma inflação maior para 2006... Por isto baixamos a taxa em apenas 0,5%...' Qual seria a credibilidade deste processo para o sistema de metas, dado que nitidamente o BC está influenciando a taxa de câmbio?"

Além disto, segundo o economista, com suas intervenções, o BC está alimentando um círculo virtuoso que, paradoxalmente, pode se voltar contra a sua própria tática. À medida que todos os movimentos são na direção de melhora de fundamentos – elevação de reservas internacionais, pré-pagamento ao FMI e Clube de Paris, eliminação do risco cambial da dívida interna –, progressivamente melhor será a percepção do investidor externo em relação à economia brasileira. A maior prova disso é a queda recente do risco país. "Dessa forma, sobretudo se a taxa Selic for mantida no atual nível, mais forte será o incentivo do estrangeiro a investir na nossa moeda. Ou seja, o BC estaria contendo a primeira onda pró-valorização do real, mas com as condições do mar melhorando a cada dia, as próximas marés seriam mais violentas." Resultado: gradativamente, mais forte terá que ser a autoridade monetária para impedir que a tendência de longo prazo do real se consolide ("a cada dia, por fundamentos, o nível justo de equilíbrio do real é ainda mais baixo").

E Póvoa faz uma conta simples, com resultados assustadores. Hoje, a diferença entre a dívida externa soberana e as reservas líquidas brasileiras encontra-se ao redor de US$ 35 bilhões. Mais as tais NTN-As e NTN-Is dariam US$ 42 bilhões de exposição cambial. Se o BC continuar fazendo leilões de swap cambial reverso de aproximadamente US$ 400 milhões e de dólar à vista de US$ 200 milhões, em cerca de 70 dias úteis, a exposição cambial brasileira estaria praticamente "zerada". "É como se tivéssemos transformado todo o nosso passivo cambial em indexador CDI. Resta saber se o mercado cambial agüenta tanta pressão de compra."

IMPRESSÃO DIGITAL

A área de telecomunicações se destacou em 2005 com um crescimento nominal de 30%. Mas há preocupações em relação a 2006. "Cresce o receio de que as redes celulares atinjam o limite de maturação. Isto restringiria não só os acessos, mas todos os negócios e serviços correlacionados à infra-estrutura móvel", diz Paulo Castelo Branco, da Nec e diretor da área de Telecomunicações da Abinee. Outro foco do setor é a indefinição dos marcos regulatórios. "Esperamos que o Ministério das Comunicações e a Anatel trabalhem em maior consonância." E tem mais: aguardam uma solução razoável para a questão do telefone social.

NA FRENTE

Balanço

Não se sabe se foi intenção ou apenas falta de tempo em meio à crise política. O fato é que este ano a edição de MPs caiu significativamente. Foram 36, de janeiro até a última segunda-feira.

No ano passado, somaram 73.

Balanço 2

Levantamento do site Congresso em Foco dá uma dica de como os parlamentares gastam seu precioso tempo.

Das 37 leis que entraram em vigor este ano por iniciativa dos congressistas, 23 prestam homenagem a personalidades, dando nome a pontes, portos e rodovias ou estabelecem datas comemorativas.

R$ 1,99

Gustavo Dedivitis, presidente da ABIPP, comemora. As vendas de Natal dos produtos populares somaram R$ 2,7 bilhões, 35% mais que em 2004.

No ano, o faturamento deve chegar a R$ 9 bilhões.

Agenda

Henrique Meirelles, presidente do BC, volta de férias dia 4, mas nem esquenta a cadeira.

No dia 5, à noite, embarca para a Suíça, onde participa de duas reuniões: o Bimonthly Governors' Meeting e a Annual Round Table of Central Bank Governors and Chief Executive Officers of Major Financial Institutions.

Opinião

Para o presidente da Abinee, Ruy de Salles Cunha, em 2006, o governo precisa sim manter a inflação no foco, mas também encontrar uma forma de reduzir significativamente as taxas de juros.

"Com a queda da Selic, o dólar deve se valorizar. Precisamos que isso ocorra para garantir as exportações e reduzir as importações", diz.

Cana

A Usina São Martinho, de Pradópolis, bateu recorde na safra 2005/06: moeu 7,13 milhões de toneladas de cana. E produziu 443 mil toneladas de açúcar e 320 milhões de litros de álcool.

CURTAS

Apesar de não se esperar surpresas, a divulgação, hoje, do Relatório de Inflação, pelo BC, pode levar o mercado de juros a interromper a tendência de queda dos últimos dias.

Felipe Luz, atual diretor de Relações Institucionais e Jurídico da Sadia, deixa o cargo para assumir, dia 4, o comando da Secretaria de Planejamento de Santa Catarina.

Exemplo. Um ex-ministro chinês foi sentenciado esta semana à prisão perpétua. Seu crime? Receber US$ 500 mil em propinas.


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