Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Editorial de O Estado de S Paulo

Promessas arriscadas do governo

O governo deu início à campanha eleitoral anunciando para o ano que vem um grande crescimento da economia, assim como uma forte queda da taxa de juros. Promessas arriscadas que podem voltar-se contra, se não se concretizarem.

O ministro da Fazenda prevê um crescimento do PIB de 5% em 2006, sem se fundamentar, no entanto, em nenhum estudo dos economistas da sua equipe, mas apenas como aposta, supondo que a redução da taxa Selic deverá ser o motor desse crescimento. Não há dúvida de que uma queda da taxa de juros (e não apenas da Selic) poderá contribuir para acelerar o crescimento. No entanto, é preciso, de um lado, que o Banco Central se torne agente eleitoral do presidente Lula e, de outro, que abandone totalmente sua postura ortodoxa para aderir a uma redução muito pronunciada da taxa básica de juros.

O presidente da República parece ignorar a autonomia do Comitê de Política Monetária (Copom), assim como o risco de uma queda brusca da taxa de juros.

O crescimento da economia não depende apenas da queda da Selic, mas também de um aumento da demanda, assim como dos investimentos para atendê-la, e isso num quadro de estabilidade dos preços que mantenha o poder aquisitivo das famílias.

O controle da inflação ainda é bastante precário. O ano de 2006 vai começar com reajustes de alguns preços que podem contaminar o conjunto. Certamente o Copom levará em conta essa ameaça, especialmente num momento em que não pode contar com a taxa de câmbio como aliada.

O motor do crescimento da demanda no ano em curso foi o crédito em consignação, mas nada autoriza pensar que, depois da fase de euforia, os trabalhadores com carteira assinada e os aposentados continuem a usar esse expediente para aumentar seu poder aquisitivo.

Num ano eleitoral, com um presidente que já teve sua popularidade fortemente afetada, dificilmente o governo estará disposto a manter uma atitude de austeridade ortodoxa na liberação das verbas orçamentárias, que, aliás, já está sendo abandonada neste final de ano. E esse será mais um fator para contribuir para aumentar as pressões inflacionárias.

Neste ano, o Brasil aproveitou-se da grande liquidez da economia mundial, que comprou muito do País. É provável que essa situação não se prolongue até o final de 2006, o que significa que a demanda interna terá de voltar a assumir papel fundamental no desempenho da indústria.

Todos acreditamos que o próximo ano deverá ser melhor do que o atual, mas convém ao governo, no seu próprio interesse, não criar uma bolha de ilusão inconseqüente.


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