Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 28, 2005

CLÓVIS ROSSI A empulhação, em números

FOLHA
SÃO PAULO - A Folha pôs números no jogo de búzios que é, no Brasil, a previsão sobre o desempenho da economia feita pelos chamados analistas de mercado.
Sobre como estaria a cotação do dólar no fim do ano, as consultorias cometeram um "ligeiro" equívoco de 22,7%. Erro parecido se deu no lançamento de búzios sobre o crescimento econômico: 29,14%.
Nos juros, o erro ficou em "apenas" 12,5%. Em compensação, na balança comercial, o equívoco foi poderoso: 66,6%. Mas não se espante ainda: erraram por impressionantes 390% a previsão sobre o superávit externo. O melhor resultado foi o erro de 10% no superávit fiscal primário.
Meu caro empresário, que sustenta tais consultorias com contratos regiamente pagos: o que você faria com seu diretor financeiro se cometesse erros de previsão de entre 10% e 390%? Empalaria, fuzilaria ou simplesmente sugeriria a seu concorrente que contratasse esse gênio?
No entanto, você continua pagando as consultorias, embora haja provas contundentes de que, em matéria de previsão econômica, são a mais completa e pura empulhação. E, se erram com tamanha margem em todos os palpites, como confiar em outras análises e conselhos desse pessoal?
Os dados não são meus, não. São do Banco Central, que, por incrível que pareça, também acredita nos tais analistas e toma decisões com base na falsa ciência deles.
Imagino que deva haver alguma consultoria, um ou dois analistas, que erram menos. Mas não vejo ninguém fazendo a triagem. Nós, jornalistas, por exemplo, nos acomodamos a meia dúzia de nomes, de pessoas físicas e jurídicas, como os palpiteiros de plantão sobre a economia.
Sempre os mesmos. Erram, sabemos que erram, publicamos que erram, mas voltamos a consultá-los na primeira oportunidade.
Alguma surpresa com o fato de o Brasil ser tão medíocre no desempenho econômico como na discussão sobre economia?

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