Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 26, 2005

CLÓVIS ROSSI A vassoura e a China

FSP
 GENEBRA - Quando nos instalamos em Buenos Aires, em 1981, para que eu assumisse o posto de correspondente da Folha, vigorava a primeira versão portenha do câmbio fixo, que, dez anos depois, ganharia até status de item constitucional.
Bom, a primeira e natural providência foi comprar as coisas triviais para o apartamento. No supermercado da esquina, que não era precisamente uma Daslu na vida, compramos a vassoura -entre outros aparelhos de alta tecnologia. Em casa, vimos o rótulo: "Made in USA".
Não é preciso ser PhD em Harvard ou no MIT para desconfiar de cara que um país que importa vassouras está condenado ao fracasso.
Por isso, nem me animei a inscrever esse meu genial "insight" no Prêmio Nobel de Economia.
Na semana passada, fomos comprar enfeites de Natal nas Lojas Americanas, que tampouco são uma Daslu da vida. Enfeites tão triviais quanto a vassoura, mas com outro fabricante: "Made in China". Nada sofisticado, coisinhas básicas que qualquer artesão de fundo de quintal faria, até com mais graça. Minipacotes de Natal, por exemplo, a um preço inferior a R$ 2 (menos de US$ 1).
Lembrei-me imediatamente da vassoura de Buenos Aires, e só não achei que o Brasil estava condenado ao fracasso porque essa descoberta já fiz há um bocado de tempo. Quer dizer, fracasso é um exagero. Está condenado a ser, no horizonte disponível, essa mediocridade espantosa em tudo: na economia, na discussão política, no quadro eleitoral. Como é que dois partidos que governaram o país no período (1995/2005) em que a renda média dos ocupados caiu 31% podem continuar disputando esse Fla-Flu cretino?
Só não é medíocre no quadro social. Aí é obsceno. Ponto.
É óbvio que há algo errado com um país de mão-de-obra tão barata, mas que, mesmo assim, importa bugigangas baratas de um país como a China. Será que a China reinventou a roda e nós compramos?

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