Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, outubro 24, 2005

Lucia Hippolito Desconfiança no Estado

bço noblat11

Comentário da cientista política Lucia Hippolito na CBN:

 

"Não há como discutir o resultado do referendo. Todos os estados brasileiros e todas as capitais votaram pelo NÃO. Cerca de 2/3 do eleitorado brasileiro mandou dizer que é contra a proibição do comércio de armas de fogo.

 

É importante registrar que a maioria esmagadora da sociedade brasileira se manifestou na contramão do "politicamente correto". Manifestou-se contra uma proposta apoiada pelos três poderes da República: Executivo, Legislativo e Judiciário, por boa parte da mídia, mas também por gente famosa, por artistas queridos, políticos influentes, lideranças religiosas e o que há de mais representativo do "politicamente correto".

 

Com muita delicadeza, mas com uma firmeza espantosa, o povo disse NÃO maciçamente.

 

Nunca é demais lembrar que, mesmo com esse resultado, o Estatuto do Desarmamento continua valendo, com restrições muito severas ao comércio de armas.

 

O referendo acabou tomando um caráter plebiscitário que contém uma clara manifestação de desconfiança dos cidadãos no Estado brasileiro. Não é uma desconfiança neste ou naquele governo. O recado do cidadão é a desconfiança no Estado.

 

A sociedade mandou dizer que não está nem um pouco satisfeita com as políticas públicas do Estado brasileiro, sobretudo a política de segurança pública, ou a falta de uma política de segurança pública.
 

Este recado é mais amplo, porque segurança pública vai muito mais além da construção de cadeias e da prisão de bandidos. Faz parte da segurança pública uma política habitacional decente, uma política de transportes, de saneamento básico, de educação, de emprego para jovens.

 

Em suma, segurança pública é um tema que não se esgota no Estatuto do Desarmamento.
 

É importante registrar que as principais lideranças políticas do país foram derrotadas. Do presidente Lula, passando pelo ministro da Justiça, Marcio Thomas Bastos, chegando até mesmo ao prefeito tucano José Serra.

 

Mas o principal derrotado foi mesmo o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, patrono do referendo e defensor do SIM. Alagoas, seu estado, brindou Renan com uma abstenção-monstro e com a vitória do NÃO.
 

A sociedade brasileira mandou dizer ao Estado que não está nem um pouco satisfeita com a forma como vem sendo tratada. E aguarda, ansiosa, uma resposta dos poderes públicos."

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