Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 18, 2005

Hipocrisia tenta anular imprensa brasileira

o globo

Acada dia que passa, a depressão aumenta. A resistência do PT/governo diante das evidências dos crimes cometidos está desmoralizando a imprensa, pois nosso esforço de buscar a verdade na maior crise da História republicana está batendo numa barreira de mentiras e caindo no vazio. Não tenho procuração para falar por ninguém, mas sinto um desânimo conformado, um ceticismo amargo nas colunas de colegas jornalistas. Depois do vendaval de verdades que Jefferson jogou no ventilador, quando o povo viu por breves momentos a nudez da ópera bufa, como que olhando pela porta de um bordel, as cortinas foram se fechando com habilidade e, aos poucos, os velhos lugares-comuns voltaram : "Tudo acaba em pizza, sempre foi assim, eu já sabia e o país não tem jeito". Trata-se da progressiva vitória que os stalinistas e cobras criadas do Poder Central, ajudados por artes jurídicas e legislativas, estão conseguindo: fazer tudo voltar a zero. Os envolvidos no grande crime de ataque à democracia "burguesa" estão sorrindo, cumprindo uma ordem da direção: "Sorriam sempre, façam o 'V' da vitória que Maluf sempre ostentou, façam-se de despreocupados que tudo se ajeitará!". Os comunistas e falsas virgens d'antanho descobriram, maravilhados, a tática malufista da negação infinita como, aliás, notou Marcelo Coelho na "Folha". O malufismo tomou conta do petismo. Trata-se de, em nome de um emaranhado de dogmas que eles chamam de "causas populares", ostentar um cinismo indestrutível, com a conivência meiga do cara-de-pau máximo, o ex-símbolo popular que se revelou incapaz de governar e capaz de manobrar piadas e carismas para ocultar as verdades mais óbvias. Lula ousa dizer que vê "leviandades e insinuações nas CPIs".

Diante disso tudo, estou enojado. A grande mentira está derrotando a imprensa e adoecendo os homens de bem que romanticamente achavam que o Brasil poderia se modernizar. Os safados acreditam que o país não tem condições de suportar a delicadeza da democracia. E como o socialismo é impossível (eles remotamente suspeitam), partiram para o mais descarado populismo para reeleger o Lula de qualquer maneira. Nada prova nada. Tudo fica impune e tudo marcha para a desconstrução do país que o período democrático conseguiu melhorar, apesar deles.

São hábeis os stalinistas. Convencem a população de que o "Caixa 2" é crime menor. E até a imprensa morde a isca e tenta provar que "Caixa 2 é crime maior, sim", quando não se trata de caixa 2 maior ou menor, pois a dinheirama não veio de caixa 2 nenhum de campanha, veio de assalto programado aos cofres de estatais e fundos de pensão, de acordos milionários com empresários antes e depois das eleições, de superfaturamentos, de campanhas publicitárias fajutas, de empréstimos falsos em bancos, de dinheiro mandado a dólar-cabo para o Exterior para pagar despesas aqui. O burocrata bochechudo com barbichinha Berzoini, truculento empregado do Dirceu, declarou: "Não devemos ser hipócritas. Caixa 2 é muito comum na política do país!" Genial. Ele confessa um crime falso, exatamente como o marido que confessa à esposa ter papado uma garota de programa para esconder que tem uma amante há anos. O Land Rover, o apartamento da esposa de Dirceu, coisinhas assim, fazem parte do mesmo plano — dar anéis sem valor para manter os dedões ladrões. Não podemos cair nesse conto-do-vigário, santo Deus!...

Outro dia escrevi um artigo irado (alguns reclamaram), mas aqui vai outro, pois a situação atual é um insulto a todos nós, da imprensa ou não. É um insulto vermos o regresso do Brasil a um passado pré-impeachment do Collor, a todos os vícios que pareciam suprimidos pela consciência da sociedade civil. Estamos descobrindo que não dispomos de instrumentos para modernizar o pais — tudo parece ter uma vocação para a marcha a ré em direção ao Atraso. Só nos resta reafirmar as convicções "sem provas" para contrariar as mentiras deslavadas. O óbvio está berrando à nossa frente.

É óbvio que o crime contra Celso Daniel é a matriz sangrenta de tudo que veio depois. Não digo que o PT matou o prefeito, claro, mas que esconde o crime para esconder as motivações e esconder o esquema do tradicional "caixa 2 revolucionário" instalado em todas as prefeituras do PT, fato sabido desde a denúncia daquele romântico Paulo Vensceslau, que foi expulso do partido pelo Lula. Sabemos que tudo que os irmãos de Celso Daniel dizem é pura verdade e que o resto é o crime de ocultação, "em nome do povo". Sabemos que gastaram quase um bilhão do orçamento para comprar votos e eleger o pau-mandado Aldo para a Câmara, assim como sabemos que Delúbio Soares será expulso do PT, aquele empregado da direção suprema do partido, que é acusado de ter feito tudo sozinho. Delúbio — talvez até com seu heróico consentimento de tarefeiro obediente — será queimado vivo para salvar os chefes, na melhor tradição do stalinismo e do Carandiru.

Claro que haverá renúncias dos deputados, encomendadas pelo Lula, claro que não houve empréstimo nenhum do Banco Rural para o PT, como sabe até o vice-presidente Alencar, atual evangélico e ilustre coroinha de Edir Macedo (Salve-nos, oh, santa Maria chutada pela Igreja Universal!...). Claro que sabemos também que ninguém empresta 20 milhões de dólares a um partido sem fundos, com o distraído aval de "genoinos e valérios", claro que todos sabem que o dinheiro está lá fora, tudo acertado antes, e que aqui é só a lavanderia. Claro que há infinitas provas de tudo que está acontecendo, na melhor forma do direito, através das "provas indiciárias", como ensinou o jurista Miguel Reale Jr. Claro que bancos públicos e privados demoram em entregar documentos, dando tempo para falsificações e para o esquecimento. Claro que Lula, Dirceu, Gushiken, Gilberto Carvalho, todos da executiva do PT e do governo sempre estiveram a par de tudo.

E dizem: "Sempre foi assim...". Não. Nunca foi assim. Houve uma "revolução" na sordidez nacional. Jornalistas, uni-vos!

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