Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 21, 2005

Eliane Cantanhede - Agonia sem fim

Eliane Cantanhede - Agonia sem fim


Folha de S. Paulo
20/10/2005

José Dirceu caiu, mas José Dirceu jamais cai. Gato, tem sete vidas. Divindade política, é onipresente. Stalinista, sente-se acima do bem e do mal. Ex-todo poderoso da República, mantém mil e um amigos.
Sua morte política está sendo longa, difícil, uma agonia sem fim, enquanto ele mexe todos os pauzinhos na Justiça, na CCJ da Câmara, no Conselho de Ética, nos partidos aliados -que têm imensas dívidas em dólares com Dirceu, a serem quitadas em outra moeda: votos, manobras e delongas no processo de cassação. Supõe-se que, no conselho, o PP inocente os petistas, e o PT, os pepistas. Tudo em família.
Só isso pode explicar o extemporâneo parecer do deputado Darci Coelho (PP-TO), determinando que o processo de Dirceu seja retirado do Conselho de Ética mesmo depois de já ter até o parecer de Júlio Delgado (PSB-MG) favorável à cassação.
Dirceu conseguiu dividir o governo, o Supremo, a imprensa, os leitores, o PT e o que mais passou pela frente. Além da força e da determinação, ele também aprendeu muito, por exemplo, com os erros dos adversários que jogou aos leões quando estava na oposição e só pensava em chegar ao poder, com ou sem Lula. Uns, imitou. Outros, esconjurou.
Aprendeu com a cara-de-pau de Collor, a perplexidade de Ibsen Pinheiro, a falta de interlocução de Eduardo Jorge. Qualquer um deles poderia ter assinado, antes, o texto que ele assina, agora, em sua defesa. E todos jogam a culpa na mídia, velha aliada de Dirceu quando era ele o algoz e, hoje, acusada por ele de algoz, quando é ele o réu.
Que suas futuras vítimas (se ele ainda mantiver a capacidade de fazer vítimas) observem bem todos os seus passos. Dirceu está lutando uma guerra de guerrilhas, infiltrando-se, dividindo, cobrando dívidas, distribuindo panfletos, dando entrevistas, expondo-se no palco de guerra. E, assim, criando uma tecnologia de autodefesa jamais vista no Congresso. Nem por isso parece eficaz.

@ - elianec@uol.com.br

 

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