Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, julho 27, 2005

As duas faces da moeda Alcides Amaral

O Estado de S Paulo

'O PT vai ter de ser reinventado. O PT vive a pior crise da sua história e esse é o fim de uma fase' TarsoGenro,novo presidentedopartido Tendo a discordar do presidente Lula quando ele afirma que 'o Brasil não merece tudo isso que está acontecendo'. Merece, sim, pois fomos nós, mais de 52 milhões de brasileiros, que o elegemos, a ele e ao Partido dos Trabalhadores (PT), para nos governar. Embora essa afirmação seja injusta para com todos aqueles que não votaram nos companheiros do PT, assim é a vida. Como, de acordo com o velho ditado, cada povo tem o governo que merece, o presidente Lula é o presidente dos 170 milhões de brasileiros, queiramos ou não. Ele e sua equipe são responsáveis pelo destino deste pobre país, que hoje nos envergonha e nos humilha. A imprensa internacional já percebeu a gravidade da crise por que estamos passando e o Brasil passa a ser olhado com desconfiança. E, quando a senadora Heloisa Helena afirma na CPI dos Correios que agradece 'a Deus por ter sido expulsa do PT', nada mais precisa ser dito.

A verdade é que a eleição do PT para governar o Brasil foi uma decisão de risco, uma vez que todos sabiam que lhe faltavam equipe e experiência administrativa para conduzir um país como o nosso. Administrar Estados e municípios fornece alguns subsídios importantes, mas a Presidência do País é algo muito mais complexo e fica ainda mais difícil quando o próprio presidente eleito não tem experiência administrativa alguma. O presidente Lula tinha - e ainda tem - uma bela história de vida. Foi um grande líder metalúrgico, mas daí a ser um bom e eficiente presidente da República vai uma diferença muito grande. Isso tudo não era novidade para a grande maioria, mas o povo brasileiro deixou que 52 milhões de 'petistas' o colocassem no cargo mais alto da nossa hierarquia política. Portanto, estamos colhendo aquilo que plantamos.

O que, entretanto, causa mais revolta é que o PT construiu duas décadas de história dizendo ser o defensor de um país mais justo, mais democrático e mais ético. E o que estamos vendo é que, na primeira oportunidade, a ética foi jogada para o espaço e Brasília se transformou num verdadeiro lamaçal. Milhões de brasileiros foram iludidos por esse discurso que parecia ser genuíno e sincero, o que nos deixa a todos revoltados e, em certas circunstâncias, enojados.

O presidente Lula, devidamente blindado e aparentemente alheio a tudo o que acontece no Congresso Nacional envolvendo o seu PT, ainda vem a público - como o fez na última viagem a Paris - para afirmar: 'Tenho o PT como filho. Porque sou um dos fundadores. Em 20 anos, o PT chegou à Presidência, coisa que muitos partidos demoram cem anos para conseguir.' As últimas pesquisas do Ibope mostram, entretanto, que o afeto dos 'filhos' não é mais o mesmo, pois, se em março de 2005 cerca de 60% dos brasileiros confiavam no presidente e apenas 34% tinham restrições, agora, em julho de 2005, aqueles que ainda confiam no presidente se reduziram para 53% e os brasileiros que não confiam já alcançam 42% da população. O aumento da corrupção é visto pela população como o maior dos males atuais do Brasil, um país em que não há segurança e onde muitos brasileiros ainda morrem de frio e de fome.

Há os mais exaltados, como o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, que afirmou recentemente: 'Vamos acabar com essa história de que Lula não sabia de nada. Ou ele é um completo idiota ou sabia, sim, de toda a corrupção que se passou embaixo do seu nariz.' Não chegamos a esse extremo, mas não podemos ignorar o mal-estar existente pelo fato de o presidente dizer não saber nada do que se passa na cúpula do PT, seu filho. Entretanto, como toda moeda tem duas faces, há os mais otimistas, que vêem o lado positivo dessa bandalheira toda. Se a crise que estamos atravessando não tomar proporções tais que venham a afetar os rumos da nossa economia (a única coisa de bom que ainda nos resta), tudo bem. O custo será pequeno para nos vermos livres do PT. É uma experiência por que tínhamos de passar, os custos aí estão, mas a longo prazo isso deve ser bom para o País. Como o PT, segundo ainda o seu novo presidente, Tarso Genro, 'vive crise moral e devastadora', é de esperar que nas novas eleições tudo venha a ser diferente. Esse é, pelo menos, o meu desejo. Depois desse escândalo todo que emporcalha a Nação, chegou a hora de termos a nossa reforma política. Mas não a reforma política efetuada pelos políticos, e sim aquela realizada pelo povo brasileiro. Em não havendo candidato ou candidatos que nos dêem a segurança de que teremos dirigentes à altura deste país, vamos dizer um sonoro 'não' nas urnas. Quando tivermos um presidente eleito pelo povo com menos votos do que os nulos e em branco, a história pode mudar. Ao invés de assumir o poder e 'começar a gastar' os milhões de votos conseguidos nas urnas, o novo mandatário terá de trabalhar para conquistar a confiança da população. Sem isso mal poderá governar, não terá 'trunfos' para gastar. Terá, pois, de obter o respaldo popular para poder, efetivamente, administrar o País.

Se, entretanto, continuarmos a agir como temos feito até agora, colocando, com votação significativa, o 'menos pior' no poder, nada mudará neste país. E teremos de continuar ouvindo que 'o Brasil não merece tudo isso o que está acontecendo'. Merece, sim!?

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