Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 30, 2005

Caixa dois de Furnas engorda propinas do PT, diz Jefferson

folha de s paulo

RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL

Na noite de terça-feira, antevéspera de seu depoimento à CPI dos Correios, Roberto Jefferson, presidente licenciado do PTB, relatou à Folha um esquema de desvio de dinheiro a partir de Furnas Centrais Elétricas que lhe teria sido descrito pelo diretor de Engenharia da estatal, Dimas Toledo.
"Ele explicou que sobram R$ 3 milhões por mês em Furnas", diz. "Desse total, R$ 1 milhão vai para o PT nacional, pelas mãos do Delúbio [Soares, tesoureiro do partido]. R$ 1 milhão vai para o PT de Minas Gerais, por meio do doutor Rodrigo [Botelho Campos, diretor de Administração, ex-dirigente da CUT-MG]."
Dimas não foi localizado ontem pela Folha para comentar as declarações de Jefferson. Sua secretária informou que ele está em férias, em local desconhecido.
No relato do deputado, o dinheiro restante, segundo lhe teria dito Dimas, era dividido meio a meio: "R$ 500 mil ficam com a diretoria de Furnas" e "R$ 500 mil são repartidos entre um pequeno grupo de deputados".
Pertencem ao grupo, segundo Jefferson, parlamentares que, no início do governo Lula, trocaram o PSDB por siglas da base aliada por influência da Casa Civil, à época chefiada por José Dirceu.
Jefferson nomeia três integrantes desse grupo de ex-tucanos: Luiz Piauhylino (PE), que passou pelo PTB e hoje está no PDT, Osmânio Pereira (PTB-MG) e Salvador Zimbaldi (PTB-SP).
"Esse grupo conseguiu nomear o diretor financeiro de Furnas", diz Jefferson. Trata-se de José Roberto Cesaroni Cury, formado na Unicamp. Campinas é a base eleitoral de Salvador Zimbaldi.
Todos esses detalhes teriam sido apresentados a Jefferson numa visita que Dimas Toledo fez ao apartamento funcional do deputado, em Brasília, na noite de 13 de abril passado. O encontro faria parte do esforço do diretor de Engenharia de Furnas para reverter a decisão do presidente Lula de entregar o cargo ao PTB.
"O Dimas me disse tudo isso sentado aí nessa poltrona", conta Jefferson, apontando para o local da sala de estar onde, anteontem, estava uma de suas assessoras.

Pressões
Jefferson diz que, mesmo antes da visita, já se dera conta das pressões contrárias à substituição em Furnas. Nesse ponto, repete os nomes citados em sua segunda entrevista à Folha, publicada em 12 de junho. Aécio Neves, Itamar Franco, Severino Cavalcanti e grandes empreiteiras seriam alguns dos defensores, segundo Jefferson diz ter ouvido de Dirceu, da permanência de Dimas.
Na noite da visita, Jefferson havia saído com sua mulher, Ana, para assistir a uma apresentação da cantora lírica Denise Tavares, que dá aulas ao deputado. Na volta, encontrou o diretor de Engenharia à sua espera.
"Tudo o que o Dimas me explicou eu relatei depois ao Zé Dirceu. Ele confirmou que era isso mesmo", diz o deputado. "Percebi claramente que o Zé Dirceu estava jogando contra a nomeação do Pirandel [Francisco Pirandel, nome que o PTB havia escolhido para o posto em Furnas]."
Na conversa posterior à visita de Dimas Toledo, Jefferson diz ter ouvido a seguinte proposta do então ministro da Casa Civil: "Roberto, vamos resolver esse negócio por cima. Deixa o Dimas lá. A gente faz um acerto direto entre o PT e o PTB". Jefferson teria respondido com uma frase então recorrente em suas tratativas com os petistas: "Eu não sou problema". Aceitou a proposta.

Lula
Até que, às 10h de 26 de abril, Jefferson esteve no Palácio do Planalto para o que foi, segundo ele, seu último encontro com Lula. Estavam presentes também Dirceu e o ministro do PTB, Walfrido dos Mares Guia (Turismo).
A dada altura da conversa, o presidente teria cobrado um desfecho para a novela de Furnas: "Roberto, por que está demorando tanto?". Jefferson diz ter mencionado as pressões, sem entrar nos detalhes discutidos com Dimas e Dirceu, e se declarado disposto a aceitar solução de compromisso. "Nada disso", teria rebatido Lula. "O Dimas vai sair."
Pouco mais de duas semanas depois, em 14 de maio, a revista "Veja" trouxe gravação em que Jefferson é acusado de comandar a corrupção nos Correios. Em seguida, a ministra Dilma Rousseff, então nas Minas e Energia e hoje na Casa Civil, mandou suspender o processo de substituição em Furnas. Dimas Toledo permanece como diretor de Engenharia.
Em seu depoimento de hoje à CPI dos Correios, Jefferson usará o caso de Furnas para ilustrar três pontos básicos do discurso que tem repetido desde que declarou guerra à cúpula petista.
Primeiro, a idéia de que, a despeito do carimbo fisiológico aplicado aos partidos aliados, é o PT que comanda os postos mais rentáveis da administração federal. Segundo, a caracterização de José Dirceu como responsável maior pelas irregularidades.
Por fim, Jefferson segue inocentando Lula de suas acusações. Ou, numa hipótese menos branda, tratando o presidente como alguém que desconhecia o que supostamente se passava em seu governo. "Quando ele perguntou sobre a substituição do Dimas, ficou claro para mim que ele não estava sabendo de nada."

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