Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, maio 26, 2005

Jefferson e Garotinho humilham o governo


De Rodrigo Morais em O Estado de S. Paulo, hoje:
"Os bastidores da operação do governo para impedir a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios incluíram quatro telefonemas do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, ao presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, pré-candidato à presidência. 'Nos últimos dias o José Dirceu ligou quatro vezes para mim. Hoje pela manhã ele fez um apelo', disse Garotinho, ontem, ao Estado.
Dirceu teria procurado o adversário também por duas vezes na terça e uma na segunda. 'Eu disse a ele: ´Olha, Zé, não há a menor possibilidade de que eu intervenha´.'
Para Garotinho, o governo não demonstrou boa vontade com a governadora do Rio, Rosinha Matheus, sua mulher, e por isso não merece ser ajudado. 'É impossível (ajudar o governo), primeiro porque o governo não merece e segundo porque a sociedade brasileira merece saber o que aconteceu.' Na terça-feira à noite, Garotinho relatou a uma platéia de militantes do PMDB, reunidos no Hotel Glória, a conversa em que um ministro 'suplicara' a ele por ajuda. Na ocasião, porém, não revelou o nome do interlocutor, a quem disse ter chamado de 'cara-depau'. Ontem, resolveu dar nome aos bois: teria sido Dirceu o autor da 'súplica'. 'Ele me pediu por favor, dizendo que era uma situação de emergência
muito delicada, que era golpe', disse Garotinho, que afirma controlar uma bancada de 30 deputados de diversos Estados.
Entre as táticas utilizadas pelo governo para convencer parlamentares a retirar assinaturas estava, segundo o peemedebista, a circulação de boatos, como o de que Garotinho teria feito um acordo com os petistas. 'Os interlocutores do governo jogaram na confusão. Tenho certeza de que o governo espalhou boatos para tentar confundir os deputados', afirmou.
Com a voz prejudicada por uma gripe que o impediu de gravar programas de rádio e o manteve em casa durante boa parte do dia de ontem, Garotinho não ficou de fora da articulação política.
Os deputados fiéis a ele tinham a orientação de consultá-lo diante das versões de que deveriam mudar de posição. 'Ele ligavam e eu dizia: não retire (a assinatura).' Ele garantiu que todos obedeceram. Garotinho recebeu ligações também do presidente do PMDB, Michel Temer, e do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). 'O Geddel me disse que o Dirceu queria vir aqui no sábado', contou.
Perguntado se lhe foi oferecido algum benefício em troca de uma adesão, como liberação de emendas ou verbas, Garotinho foi lacônico. 'Prefiro não comentar. Você vai entender.'?"
(Comentário meu: para abortar a CPI dos Correios, o governo virou refém do deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, e suplicou a ajuda de Garotinho. Jefferson humilhou os ministros José Dirceu e Aldo Rebelo: por duas vezes se recusou a recebê-los em seu apartamento de Brasília. "Dei ordem à portaria para não deixá-los subir", contou Jefferson. Recebeu-os porque a empregada atendeu a porta enquanto ele tomava banho e os ministros forçaram a própria entrada.
Garotinho humilhou José Dirceu contando a conversa que teve com ele. Não deve ser descartada a hipótese de ele ter gravado o telefonema do ministro. Recusou-se a ajudá-lo. Como antes se recusara a recebê-lo. E ainda aconselhou o ministro a não temer CPIs e a orientar os deputados do governo a apoiarem a CPI dos Correios. "Por que temer uma CPI?" - debochou Garotinho.
Creio que no episódio em curso do escândalo dos Correios o governo chegou ao fundo do poço em matéria de degradação política. Mas nunca se sabe.)
Blog Ricardo Noblat

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