Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 29, 2005

Dora Kramer:Oposição abana o fogo amigo

  Numa semana crucial para o destino da CPI dos Correios, os partidos de oposição estão atentos para o risco de perder o equilíbrio e, com ele, a vantagem obtida com os desacertos produzidos pelos governistas na tentativa de impedir a instalação da comissão de inquérito.

PSDB e PFL sabem que deslizes político-eleitorais ou gestos de exibicionismo investigatório poderão levá-los ao descrédito e conferir substância ao argumento de que a finalidade da investigação é apenas criar embaraços ao Governo e dar um bom palanque à oposição.

Diante da impossibilidade de provar que não é nada disso – a fim de não agredir o discernimento alheio –, tucanos e pefelistas pelo menos vão procurar mostrar que não é só isso. Para tanto, serão necessários ajustes de conduta.

Discursos como o do líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman, na sessão de leitura do requerimento de criação da CPI conclamando os "companheiros até a vitória", são considerados não apenas dispensáveis, mas altamente impróprios.

A palavra de ordem é transmitir equilíbrio e deixar que o Governo tropece nas próprias pernas. Seja no campo político, tratando com truculência os petistas favoráveis à investigação, seja no terreno dos interesses comerciais contrariados em negócios escusos na máquina pública.

Neste aspecto, oposicionistas acreditam que conflitos pesados virão à tona e baseiam essa convicção no tom de ameaças veladas e mútuas que permeiam os discursos de partidos aliados como o PTB, PP e parcela do PMDB.

O gosto da base governista pelo exercício da autofagia é, no entender da oposição, uma peculiaridade a ser explorada. As manobras para protelar o funcionamento da comissão também são tidas como um fator de desvantagem para o Governo.

Prolongam a temporada de sangria de imagem em praça pública e dão argumentos à oposição. A cada sessão com falta de quorum, serão evidentemente citados os nomes dos faltosos e cobrados os motivos das ausências. Tudo isso em transmissão direta pelas televisões e rádios Câmara e Senado.

Uma vez iniciados os trabalhos da CPI, o clima de disputa eleitoral, raciocina a oposição, deve ficar todo por conta da base governista. Se o restante dos parlamentares não se contiver, caminharão todos para a desmoralização.

A condução da comissão de inquérito do Banestado – onde PT e PSDB dividiram a presidência, a relatoria e o jogo de instrumentalização política que anulou os resultados – é exemplo ainda fresco na memória; repeti-lo seria caminhar para uma guerra sem sobreviventes.

O roteiro

O pronunciamento feito pelo deputado Roberto Jefferson na Câmara logo após a publicação da primeira denúncia na revista Veja servirá como roteiro-base da oposição na CPI.

A título de defesa, o presidente do PTB alegou ter sido alvo de tentativa de chantagem por parte de um lobista de empresa cujo interesse foi contrariado por causa da anulação de uma licitação nos Correios. Segundo Jefferson, o lobista usou a gravação do funcionário Maurício Marinho recebendo dinheiro para forçar uma mudança na decisão.

Pois então, a comissão começará por querer saber por que o deputado não pediu a demissão do funcionário e prosseguirá pedindo a ele que dê nome e sobrenome aos personagens envolvidos, fornecendo também o itinerário, passo a passo, da trama comercial de suborno, extorsão e fraude.

Foco no Senado

A Câmara faz barulho, mas o Senado mexe com resultados. Com esta idéia na cabeça, Governo e oposição partem para o embate na CPI dos Correios convictos de que prejuízos e benefícios terão origem na ação de senadores.

A começar pelo presidente da Casa, Renan Calheiros, em tese um aliado do Governo. Mas só em tese e nem de longe um amigo do peito como o antecessor, José Sarney.

O senador Calheiros deve obrigações ao Palácio do Planalto, que lhe sustenta o indicado Romero Jucá no Ministério da Previdência a despeito do prejuízo de imagem causado pela permanência de um ministro sob investigação numa hora difícil com essa.

Já o Governo não deve tantos favores assim ao senador Calheiros, pois a promessa de entregar o PMDB ao Governo nunca se cumpriu. Estaria assim, à primeira vista, o senador em dívida com o Planalto.

Mas o senador Calheiros – cuja fidelidade aos governos Fernando Collor e Fernando Henrique deu-se no mesmo diapasão de ambigüidade –, como ele mesmo sempre repete, não tem "compromisso com o erro".

A dúvida a respeito da imparcialidade regimental do presidente do Senado mantém Governo e oposição em suspenso.

O PFL e o PSDB, entretanto, julgam-se em ligeira vantagem, pois acham que ele agirá de acordo com as demandas da opinião pública e em sintonia com as conveniências de sua candidatura ao governo de Alagoas em 2006.

Cuidará também de diferenciar-se cada vez mais do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que aparece na pesquisa encomendada pelo PSDB ao instituto Ipsos-Brasil como o segundo político mais mal avaliado pela população. O campeão da imagem negativa é Paulo Maluf.
o dia

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