Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 29, 2005

Lucia Hippolito: O desejo de controlar as informações

"Finalmente, depois de quase dois anos e meio de mandato, o presidente da República vai dar sua primeira entrevista coletiva aos meios de comunicação brasileiros. Uma atividade que deveria ser de rotina, transformou-se num acontecimento.
Em qualquer país democrático do mundo, o que mais se vê é o governante dando entrevistas coletivas. Trata-se de uma simples prestação de contas à sociedade. Jornalistas perguntam, governantes respondem. E a vida continua.
No Brasil, talvez por causa dos 21 anos de ditadura, não se consolidou o hábito de entrevistas coletivas periódicas do presidente da República. Até porque os presidentes brasileiros não têm o hábito de prestar contas publicamente à sociedade.
Bem ou mal, de Sarney para cá, assistimos a algumas coletivas de presidentes da República.
Mas Lula governou quase dois anos e meio sem dar uma única entrevista coletiva. Preferiu fazer pronunciamentos gravados, em cadeia nacional de rádio e TV. Os contatos com a imprensa, ou foram contatos sociais, em jantares, ou conversas rápidas, com determinados jornalistas.
Tudo controlado, tudo bem medido e ensaiado, para que nada escapasse ao controle do Palácio do Planalto.
Todos os pedidos de entrevista coletiva foram sendo adiados. Até que finalmente, marcou-se para hoje.
A semana não é das mais favoráveis. Afinal, há uma série de problemas que pedem uma explicação do presidente da República. Denúncias que atingem o ministro da Previdência Romero Jucá, problemas de articulação da base governista, relações delicadas com alguns governadores, reforma tributária parada no Congresso, estrangulamento da sociedade pelo arrocho fiscal. Tudo isto sem falar nas taxas de juros, nos problemas com a Alca, no descontentamento dos militares, na lentidão dos programas sociais.
Enfim, assunto para a coletiva não falta.
Mas o que mais choca nessa história toda é a postura do Palácio do Planalto. Ontem o presidente Lula trancou-se com o marqueteiro oficial e passou o dia ensaiando perguntas e respostas, como se estivesse se preparando para um debate de campanha eleitoral.
Durante todo o dia, os veículos de comunicação tentaram saber qual seria o formato da entrevista. Quantos jornalistas poderiam comparecer, quantas perguntas seriam feitas, se haveria réplica, se o presidente escolheria o jornalista que faria as perguntas. Mas o formato foi mantido por muito tempo em segredo, como se fosse um debate entre adversários: de um lado o presidente, e do outro a imprensa.
Isto não é bom. Revela que o Planalto pressupõe um clima de hostilidade com a imprensa, e quer evitar, ou pelo menos controlar, o livre fluxo das informações.
Jornalistas não são nem amigos nem inimigos. Apenas gostariam de ter sido informados com alguma antecedência, para pudessem se preparar para aproveitar esta oportunidade tão rara, como é uma entrevista coletiva do presidente Lula."

BLIG  Ricardo Noblat

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