Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, abril 26, 2005

JANIO DE FREITAS:Os co-irmãos

 Três dados oficiais do governo Lula, além de o explicarem, permitem entender o que está ocupando vasto espaço da mídia brasileira sob a denominação de "instabilidade da democracia" na América do Sul.
Primeiro: só no ano passado, o governo Lula aumentou a dívida em títulos de R$ 737,34 bilhões para R$ 826,7 bilhões. Ou seja, aumento de R$ 50 bilhões em 12 meses. Com os aumentos ocorridos neste ano, até o mês passado, a dívida em títulos se elevou a R$ 873,61 bilhões. São, portanto, R$ 90 bilhões de dívida acrescentados em apenas 14 meses.
Vale ressaltar: com a contribuição do aumento dos juros pelo Banco Central, em março, a dívida cresceu cerca de R$ 1 bilhão por dia. Recorde de Lula.
Segundo: durante a campanha para a Presidência, Lula e o PT fizeram do pagamento de juros pelo governo Fernando Henrique, de R$ 67,5 bilhões naquele 2002, um dos seus temas de crítica mais ácida (e justa). No ano passado, o governo Lula desviou R$ 74,3 bilhões para remunerar juros.
Terceiro: os gastos com investimentos no governo Lula mostram-se 12% menores se comparados ao investimento miseravelmente baixo com que Fernando Henrique encerrou o seu governo improdutivo e desempregador.
Da safra de presidentes da geração eleitoral de Lula, dois já se foram, igualmente destituídos por movimento popular, e um tem permissão ainda para figurar como presidente, talvez até a próxima eleição, mas não tem poder algum. Os dois primeiros são o boliviano Sanchez de Losada e o equatoriano Lucio Gutiérrez, recém-hospedado em Brasília. O terceiro é o economista peruano Alejandro Toledo.
Os três têm em comum, entre si e com um certo presidente que conhecemos melhor, elegerem-se com base em compromissos de reformas sociais, econômicas e políticas praticamente idênticas -ressalvadas, é claro, as peculiaridades regionais.
E, nos respectivos governos, imporem políticas também praticamente idênticas, com primazia para pagamento da dívida externa e de pesados juros internos, recusa aos investimentos, orientação do FMI e, para encurtar, eleger a inflação mínima como prioridade nacional.
Os três dados referidos do governo Lula transpõem-se, não em valores, mas como inversão de compromissos, para o que fizeram os governos destituídos no Equador e na Bolívia e o semidestituído no Peru.
A diferença entre os tão assemelhados, de lá e de cá, é que em três dos países houve reação de baixo para cima, mais forte do que a resistência da classe satisfeita com os presidentes convertidos ao populismo conservador. No quarto país, tudo se passa de cima para baixo, até quando a destituição de um presidente tem aparências populares, como na queda de Collor.
FOLHA DE S.PAULO

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