Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 29, 2005

Folha de S.Paulo - Editoriais: COM A MESMA RECEITA - 29/03/2005

O governo decidiu, enfim, não renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional. A decisão não altera o quadro da economia brasileira, uma vez que as contas externas vêm passando por um processo de ajuste que dispensa, nas atuais condições, o recurso a novos aportes da instituição. A hipótese de não firmar um novo entendimento chegou a ser aventada no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas, em nome de uma maior segurança, optou-se pela renovação.
É um consenso que a situação econômica já é hoje diversa, em aspectos relevantes, da que levou o governo Fernando Henrique Cardoso a recorrer ao Fundo. Em 1998, num quadro de desequilíbrio nas transações com o exterior e preocupante vulnerabilidade externa, o Brasil ou buscava o apoio do FMI ou seguiria o traumático caminho do "default".
Pelo acordo, impôs-se o atual desenho da gestão econômica brasileira, baseado no estabelecimento de duas metas fundamentais -a de inflação e a de superávit primário. A primeira é perseguida pelo Banco Central por meio da política de juros. A segunda, acompanhada pela Fazenda, visa a assegurar recursos para o pagamento dos juros da dívida pública.
Desde o início, a equipe de Lula vem se esmerando não apenas em cumprir essas metas na proporção exigida pelo Fundo mas em perseguir, por iniciativa própria, objetivos fiscais e antiinflacionários ainda mais draconianos. Foi essa a maneira que a administração petista encontrou para tentar dissipar as justificadas suspeitas dos mercados sobre políticos ligados a um partido que, pouco antes da eleição, pregava o enfrentamento com os credores.
É verdade que os mais conservadores prefeririam manter o monitoramento do FMI. Todavia, num quadro internacional favorável, contando com reservas mais elevadas, contas melhores e a confiança adquirida, o governo pôde tomar sua decisão sem gerar turbulências.
Ao deixar de firmar um novo acordo, o presidente Lula ganha um trunfo político -pois poderá dizer que "livrou" o Brasil do FMI- e os mercados não têm motivos para desespero -pois contam que a antiga receita continuará a ser seguida.

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