Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 03, 2004

Diogo Mainardi O plano B de bom

"Eu sei que os brasileiros se orgulham de
suas estatais. Cinqüenta anos de propaganda
massacrante produziram esse resultado.
O brasileiro é um tipo pitoresco: acha que
todo político é safado, mas insiste em
entregar suas maiores empresas a eles"

Eu tenho um Plano B para a economia. Os paloccianos afirmam que a mera existência de um Plano B pode prejudicar o Brasil. Bobagem. O que prejudica o Brasil é a falta de um bom Plano B. Em primeiro lugar, devemos diminuir a dívida pública vendendo tudo o que der para vender, dos imóveis às empresas estatais. Só a venda de Petrobras, Eletrobrás e Banco do Brasil pode abater cerca de 10% de nossa dívida interna. Eu sei que os brasileiros se orgulham de suas estatais. Cinqüenta anos de propaganda massacrante produziram esse resultado. O brasileiro é um tipo pitoresco: acha que todo político é safado, mas insiste em entregar suas maiores empresas a eles.

A Petrobras, por exemplo, é cara demais para nós. Veja o caso das plataformas petrolíferas P-51 e P-52. Durante a campanha eleitoral, Lula prometeu que elas seriam construídas no Brasil. Quando fez a promessa, no fim de 2002, cada plataforma estava orçada em cerca de 500 milhões de dólares. Quase um ano e meio depois, a P-52 foi encomendada a um estaleiro de Cingapura, por 775 milhões. E a P-51 ficou a cargo da subsidiária brasileira do mesmo estaleiro de Cingapura, por 800 milhões. A esse valor, porém, é necessário acrescentar os 150 milhões de isenções fiscais concedidos pelo Estado do Rio de Janeiro. E os 360.000 barris diários de petróleo que deixamos de produzir entre uma licitação e outra. O BNDES vai financiar a obra em 600 milhões de dólares. Apesar de todo esse dinheiro, serão criados menos de 5 000 empregos diretos no Brasil, metade dos quais na Nuclep, uma estatal que deu 35 milhões de prejuízo anual nos últimos dez anos e que já deveria estar fechada há muito tempo. Difícil calcular quanto a bravata nacionalista de Lula pode ter custado ao país. Alguém aí me ajude a fazer a soma, por favor.

Um bom Plano B para a economia também deve dobrar o superávit primário. O de Palocci foi insuficiente. Tivemos mais de 4% de déficit nominal no ano passado. Significa que faltou uma montanha de dinheiro para pagar os juros. O governo Lula nunca será capaz de zerar a conta. Por mais que ele aumente os impostos, o gasto público sempre irá crescer mais rápido. Em 2003, o Estado empregou 50 000 funcionários a mais. Só no Palácio do Planalto, o aumento de pessoal superou os 17%. O único a ser demitido foi Waldomiro Diniz, sem o qual o governo se embananou todo. Descobriu-se que era ele o verdadeiro manobrador por trás de José Dirceu, azeitando toda a barganha política no Congresso Nacional. O secretário executivo do Ministério do Planejamento, Elvio Gaspar, afirmou que o governo pretende contratar muito mais servidores até o fim do mandato. Elvio Gaspar foi secretário de Planejamento do Rio de Janeiro no governo Benedita da Silva, que deixou um rombo nas finanças do Estado e teve suas contas rejeitadas pela Justiça. Estamos, portanto, em boas mãos.

Cortar gastos é o melhor Plano B que existe. E é o melhor instrumento de moralidade política que o Brasil pode ter. Pena que ninguém tenha votado em mim na última campanha presidencial.

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