Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 08, 2003

Diogo Mainardi A revolução do PT


"O governo de Lula lembra A Revolução dos
Bichos, de George Orwell. Só que
é uma
revolução dos bichos sem revolução. Uma
revolução dos bichos posterior
à queda do
Muro de Berlim. O final é bastante conhecido"

O governo Lula lembra A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Só que é uma revolução dos bichos sem revolução. Uma revolução dos bichos posterior à queda do Muro de Berlim. No livro, que é uma parábola anti-stalinista de Orwell, porcos semiletrados libertam os bichos da eterna tirania dos homens e assumem o comando da granja, prometendo igualdade entre os animais. Logo se apropriam de todo o leite, de todas as maçãs e de toda a cevada. Cachorros adestrados perseguem os opositores do regime. Ovelhas analfabetas repetem mecanicamente os bordões doutrinários criados pelos porcos. Cavalos obedientes trabalham até morrer. Embora sejam incompetentes na administração da granja, os porcos se mostram muito competentes na arte da propaganda e na manutenção do poder.

O governo Lula, neste primeiro ano, também foi incompetente na administração da granja. O que não significa que não tenha tido alguns méritos. O principal deles foi tentar ludibriar a Constituição para diminuir o gasto em saúde. O Brasil tem um tabu: ninguém pode cortar o gasto social. Mesmo quando é ineficiente. Mesmo quando alimenta a roubalheira. Mesmo quando poderia ser mais bem empregado de outras maneiras. Se o dinheiro desperdiçado em maus hospitais fosse aplicado no pagamento da dívida pública, a população miserável sairia ganhando. As taxas de juro cairiam, favorecendo os investimentos produtivos, geradores de empregos. Se o mesmo dinheiro fosse usado para cortar os impostos da classe média, os miseráveis também se beneficiariam. Porque o crescimento da economia respingaria, ainda que minimamente, sobre eles. O governo Lula quebrou o tabu e tentou cortar o gasto em saúde. Falta pensar em cortar o gasto em educação, em alimentação, em habitação, em cultura. Falta, igualmente, cortar os gastos administrativos. O governo deveria suprimir ministérios, Estados, municípios e órgãos públicos, mandando um monte de políticos e funcionários para a rua.

Outro mérito de Lula foi denunciar a caixa-preta do Judiciário. Quando ele deu a declaração, muitos comentaristas indignados o acusaram de leviandade. Mas ele não foi leviano. Pelo contrário: sabia perfeitamente do que estava falando. Pelo que VEJA revelou duas semanas atrás, parte do Judiciário foi o cão de guarda do PT, perseguindo seus adversários políticos e acobertando questões espinhosas relacionadas com a prefeitura de Santo André. A mais importante assessora de Lula, na área social, foi casada com o prefeito assassinado de Santo André. Fiel e discreta, ela sempre afirmou desconhecer o esquema de propinas da prefeitura. Agora que o caso foi enterrado pelos cães de guarda do Judiciário, será difícil averiguar sua afirmação.

O final de A Revolução dos Bichos é bastante conhecido. Todos os planos dos porcos fracassam. Eles começam a se vestir como homens. Começam a beber, a fumar e a jogar cartas. Começam a negociar com o inimigo. Até o dia em que fica impossível distinguir quem é homem, quem é porco.

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