Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 25, 2003

Diogo Mainardi Lula lá ­ na tel do cinemaa


"Uma biografia de Lula serviu
de base para o roteiro de um filme.
Não sei quais episódios ele irá
mostrar.
Eu incluiria até os mais recentes, como
o de Lula correndo atrás de um pato na
Granja do Torto. O deputado
Sigmaringa
poderia ser interpretado pelo próprio
deputado Sigmaringa"

Estátua, que eu saiba, até agora só ergueram uma para Lula, a do desfile da escola de samba Beija-Flor, no último Carnaval. Em compensação, sua imagem aparecerá em todas as telas de cinema do Brasil. Estão sendo feitos cinco filmes em sua homenagem. O primeiro é dirigido por um de seus maiores cabos eleitorais no meio cinematográfico, Nelson Pereira dos Santos, orador daquele comício que reuniu mais de 2.000 artistas no Canecão. Difícil imaginar que um tiete como Nelson Pereira dos Santos tenha o desprendimento necessário para retratar o presidente com isenção. Isenção, aliás, é o que ninguém quer. O cinema, no Brasil, está nas mãos do Estado. Os produtores do filme de Nelson Pereira dos Santos são os mesmos que, no passado, para financiar outro projeto, embolsaram tutu do BNDES. Os autores dos demais filmes sobre Lula, João Moreira Salles, Eduardo Coutinho e Eryk Rocha, também têm se beneficiado de dinheiro público, através das leis de patrocínio. De maneira direta ou indireta, portanto, o culto à personalidade do chefe do governo será bancado pelo próprio governo.

O quinto filme sobre o presidente é ainda mais enrolado. O roteiro é de Denise Paraná. Ela trabalhou como assessora de imprensa de Lula e escreveu a mais completa biografia dele, O Filho do Brasil, que serviu de base para o roteiro. Em janeiro deste ano, para comemorar a vitória eleitoral, a Fundação Perseu Abramo relançou o livro, numa edição ampliada. Como a Fundação Perseu Abramo é mantida pelo Estado, quem pagou a conta da encomiástica biografia presidencial foi o contribuinte. Estou curioso para saber se o filme também será financiado com dinheiro público.

O Filho do Brasil é definido por sua autora como "psico-história". É composto por uma série de entrevistas com Lula e seus parentes, entre os quais os irmãos Genival, Frei Chico, Marinete e o cunhado Lambari. Lula conta que, na infância, chegou a passar fome. Não fome de verdade, de não ter o que comer, mas de não poder comprar chiclete e mortadela quando bem entendesse. Lula acha que a miséria não é de todo má. O miserável sertanejo, segundo ele, "anda de cabeça erguida, otimista", enquanto "a classe média urbana é muito borocoxô, está sempre reclamando". Esperemos que seu governo arrume um jeito de levar rapidamente a classe média urbana à miséria. Não sei quais episódios da vida de Lula o filme irá mostrar. Eu incluiria até os mais recentes, como o de Lula correndo atrás de um pato na Granja do Torto. O deputado Sigmaringa poderia ser interpretado pelo próprio deputado Sigmaringa.

Das biografias de Lula, minha predileta é a de seu mentor intelectual, Frei Betto. Se me nomeassem diretor da Eletrobrás, eu daria a ele a função de escrever um roteiro sobre o presidente. Frei Betto também é autor de uma autobiografia, Batismo de Sangue, que o ex-guerrilheiro Helvécio Ratton pretende transformar em filme. Como a única guerrilha que resta no Brasil é para abocanhar verbas públicas, Helvécio Ratton parte com uma certa vantagem. Por acaso ainda não apareceu ninguém propondo uma cinebiografia de, digamos, Gilberto de Carvalho, o secretário particular de Lula? Daria um filmão.

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